Caso Gritzbach: Delegado e policiais delatados são presos em operação da PF
UOL
O delegado Fábio Baena Martin, os investigadores Eduardo Lopes Monteiro, Rogério de Almeida Felício, Ronald Martins e outras quatro pessoas foram alvos de mandados de prisão nesta terça-feira em uma operação deflagrada pela Polícia Federal e MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo).
A reportagem apurou que eles já foram presos. A operação, denominada Tacitus, termo em latim que significa silencioso ou não dito, tem o objetivo de desarticular organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro e cries contra a administração pública (corrupção passiva e ativa).
Ao menos 130 policiais federais, com apoio de homens da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo foram as ruas na Capital, Bragança Paulista e Igaratá, na região metropolitana, e em Ubatuba, no litoral norte.
Os alvos da força-tarefa de agentes federais e promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) foram denunciados pelo empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, delator também do PCC (Primeiro Comando da Capital), por envolvimento em corrupção.
Gritzbach foi assassinato a tiros de fuzis por dois homens em 8 de novembro deste ano no aeroporto internacional de Guarulhos, oito dias após ter denunciado os policiais à Corregedoria da Polícia Civil. Dois acusados de envolvimento na morte dele estão presos.
Ele declarou que o delegado Baena e o investigador Eduardo, quando atuavam no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), exigiram dele R$ 40 milhões para tirar seu nome de um inquérito ao qual era investido por envolvimento em um duplo assassinato.
O empresário foi acusado e ser o mandante das mortes de Anselmo Bechelli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, narcotraficante até então influente no PCC, e do comparsa Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, 33, motorista dele, executados a tiros em 27 de dezembro de 2021, no Tatuapé, zona leste.
Nomes foram delatados por Gritzbach
Baena e Monteiro, este último parente da corregedora da Polícia Civil, Rosemeire Monteiro de Francisco Ibañez, eram responsáveis pelo inquérito que apurava as mortes dos dois integrantes do PCC.
Segundo o delator, Baena e Monteiro chegaram a receber R$ 1 milhão e o dinheiro teria sido entregue por César Trujillo, dono de uma loja de carros no Jardim Anália Franco, zona leste. O empresário afirmou que os dois policiais foram pessoalmente ao restaurante Sonora receber o dinheiro.
O empresário revelou na corregedoria que após as mortes de Cara Preta e Sem Sangue, ele foi sequestrado por integrantes do "tribunal do crime" do PCC e levado para um cativeiro, no Tatuapé onde estavam um agenciador de jogadores de futebol, um amigo de infância de Cara preta e outros seis integrantes do PCC.
O sequestro - continuou Vinícius - também foi investigado pelo DHPP, mas o caso acabou arquivado porque o agenciador dos jogadores e um outro membro do PCC, Rafael Maeda Pires, o Japa, encontrado morto no Tatuapé em maio do ano passado, teriam pago R$ 10 milhões a Baena e Monteiro para não serem presos.
No depoimento, o empresário contou que os policiais ficaram com R$ 5 milhões cada. Ele disse que foi informado da corrupção pelos policiais civis os policiais civis Valdenir Paulo de Almeida, 57, o Xixo, e Valdir Pinheiro, 55, o Bolsonaro.
Ambos foram presos pela Polícia Federal em setembro deste ano, acusados de receber R$ 800 mil de João Carlos Camisa Nova Júnior, 39, o Dom Corleone, um dos maiores exportadores de cocaína à Europa, para interromper uma investigação sobre tráfico internacional de drogas.
Relógios roubados
No dia em que foi preso pelos policiais do DHPP - acrescentou o depoente - Gritzbach teve uma valise com 15 relógios de luxo levados pelo delegado Baena e investigador Monteiro. Ele foi conduzido para o 8º DP (Belém), na zona leste.
De acordo com Gritzbach, na delegacia Baena e Monteiro tinham prometido entregar os relógios quando ele fosse solto. Porém, devolveram apenas oito e ficaram os outros sete, avaliados, somados, em R$ 714 mil. Ele detalhou as marcas, modelos e números de séries dos artigos.
Posteriormente, declarou Gritzbach, o investigador Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, foi visto por ele em redes sociais usando os relógios Rolex Yacht Master, de Ouro, de R$ 200 mil, o mais caro dos sete não devolvidos, além do Rolex GMT Pepsi e dois Hublot King Power.
Segundo promotores do Gaeco, a Justiça decretou a prisão temporária dos investigados e cumpriu mandados de buscas e apreensões em endereços relacionados a eles, além de outras medidas cautelares, como o bloqueio de contas e o sequestro de bens. Os envolvidos teriam movimentado R$ 100 milhões desde 2018.
O que diz a defesa do delegado Baena
A defesa de delegado de Polícia Fábio Baena Martin esclarece que as "mentiras propagadas pelo criminoso delator já foram objeto de ampla investigação conduzida pela Corregedoria da Polícia e foram arquivadas, a pedido do próprio Ministério Público, o que veio a ser ratificado e confirmado em recurso apreciado pela Procuradoria Geral de Justiça".
A nota da defesa diz ainda que "as especulações e falácias propagadas pelo delator Antônio Vinícius Gritzbach, feitas com o vil intuito de macular a escorreita investigação que comprovou sua participação no homicídio/organização criminosa, repetidas em novas oitivas não possuem o condão de modificar a coisa julgada e o entendimento primário do Ministério público, aguardando-se, por isso, que pedido formulado pela defesa seja acatado e esse novo expediente seja arquivado".
A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos demais acusados, mas o espaço continua aberto para manifestação dos defensores de todos eles. O texto será atualizado caso haja um posicionamento.