Inflação deveria estar sendo combatida com mais vigor no Brasil, diz economista
Por redação com InfoMoney
A hegemonia dos Estados Unidos como destino quase exclusivo do capital global começa a ser colocada em xeque por gestores diante da nova ordem geopolítica e do aumento explosivo da dívida americana. Essa mudança de fluxo abre espaço para os mercados emergentes — mas o Brasil, embora com potencial, ainda não consegue deslanchar. Inflação persistente, expectativas desancoradas e uma política fiscal expansionista mantêm o país travado.
Essa foi a principal leitura de Felipe Tâmega, economista-chefe, e João Bragança, gestor internacional, ambos sócios da Absolute Investimentos, durante sua participação no programa Outliers, do InfoMoney, apresentado por Clara Sodré e Fabiano Cintra.
“O dinheiro estava praticamente 100% nos Estados Unidos porque era o melhor mercado de capitais em dólar. Mas isso começou a mudar com as sanções à Rússia em 2022”, afirmou Bragança. “Agora, você tem um layer geopolítico. Os canadenses, por exemplo, não querem mais financiar um país que pode estar contra eles. A diversificação voltou à pauta.”
Volta ao radar
A consequência é que países que ficaram esquecidos nos últimos anos, como os emergentes, voltam ao radar dos grandes fundos. “Qualquer melhora no fluxo de capital e na percepção de risco ajuda muito o emergente, que ficou largado por bastante tempo”, disse Bragança.
Mas enquanto outras economias começam a se beneficiar desse movimento, o Brasil se mantém travado por desequilíbrios internos. “A atividade econômica tem surpreendido para cima, com destaque para a agricultura e estímulos pontuais. Mas isso vem com custo: a inflação está acima do teto da meta, e as expectativas para 2026, 2027 e 2028 continuam desancoradas”, afirmou Tâmega.
Ele avalia que, apesar da desaceleração global e da valorização do real, o Banco Central deverá manter os juros elevados por mais tempo. “O mundo já fala em corte, mas aqui talvez tenhamos que manter ou até subir mais. Achamos que o ciclo terminou em 14,75%, mas a política fiscal não ajuda”, afirmou.
Problema está em ações parafiscais
O problema, segundo os gestores, não está apenas nas despesas diretas do governo, mas também nas ações parafiscais, como o crédito consignado privado, que tende a aquecer a atividade no meio do ano. “Isso atrapalha qualquer tentativa de corte de juros em 2025”, alertou Tâmega.
Apesar de 2026 ser um ano eleitoral, ele avalia que o foco do mercado está em outro ponto. “A eleição ainda não é o ponto crítico. A maior dificuldade está nas medidas pontuais que estimulam o consumo num momento em que a inflação deveria estar sendo combatida com mais vigor.”
No exterior, a Absolute mantém posições compradas em bolsas fora dos Estados Unidos e também em moedas como o euro. “Estamos zerados em yuan, mas temos exposição em outras moedas asiáticas”, contou Bragança. Já nas commodities, os gestores estão neutros, sem posições compradas ou vendidas no momento.
Questionado sobre a posição no Brasil, Bragança foi direto: “Estamos comprados em bolsa, mas não via índice — temos uma cesta de ativos. Para juros reais, estamos neutros. E na inclinação da curva nominal, aplicados.”
Para Tâmega, o principal aprendizado de sua trajetória é a capacidade de reconhecer erros e reavaliar cenários. “Mesmo quando você acerta o cenário, pode errar o timing. O importante é ter humildade para repensar do zero”, disse. Bragança completou: “A história nos ensina que os ciclos se repetem. E o bom do mercado é que todo dia tem jogo novo.”