Trump cobra que Rússia 'se mexa' para acabar com 'guerra sem sentido' na Ucrânia, enquanto enviado da Casa Branca reúne-se com Putin
O Globo
Trump tem pressionado Moscou e Kiev a concordarem com um cessar-fogo desde que retornou à Casa Branca, em janeiro deste ano, mas não conseguiu extrair nenhuma concessão importante do Kremlin, apesar das repetidas negociações entre autoridades russas e americanas. O líder dos EUA disse à NBC News no mês passado que estava “irritado” com seu colega russo, enquanto o principal diplomata dos EUA, Marco Rubio, alertou na semana passada que Washington não toleraria “negociações intermináveis” com a Rússia sobre o conflito.
“A Rússia tem que se mexer”, escreveu Trump em sua plataforma Truth Social, acrescentando que o conflito, que começou há mais de três anos, quando Moscou enviou tropas para a Ucrânia, era “sem sentido” e “nunca deveria ter acontecido”.
A reunião desta sexta-feira em São Petersburgo, cidade natal de Putin, abordará “vários aspectos do acordo ucraniano”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, citado pela mídia estatal russa. Segundo ele, porém, "não há necessidade de esperar nenhum avanço aqui", porque "o processo de normalização das relações está em andamento”. Quando perguntado se os dois discutiriam uma possível reunião entre Putin e Trump, Peskov foi citado como tendo dito: “Talvez”.
Witkoff, um aliado de longa data de Trump, teve duas reuniões anteriores com Putin na Rússia desde o retorno do republicano em janeiro. Após o último encontro, disse que Putin era um “grande líder” e “não um cara ruim”. O elogio do enviado a um presidente que há muito tempo é visto pelos Estados Unidos como um adversário autocrático destaca a mudança radical na abordagem de Washington em relação às negociações com o Kremlin desde que Trump assumiu o segundo mandato.
Os EUA também abriram mão da liderança do Grupo de Contato de Defesa da Ucrânia e, pela primeira vez em três anos, desde a sua criação, não compareceram a uma reunião. Previsto para esta sexta-feira em Bruxelas, o 27º encontro de lideranças militares de cerca de 50 nações visa discutir as remessas de ajuda para Kiev. Mas o secretário de Defesa americano, Pete Hegseth decidiu participar apenas virtualmente.
A liderança dos EUA no grupo de contato forneceu uma série de armas e materiais para as Forças Armadas da Ucrânia, mas o fluxo de mercadorias diminuiu bastante desde a segunda posse de Trump. A Ucrânia precisa especialmente de munições de defesa aérea, como os mísseis Patriot que os EUA enviavam anteriormente. Isso ficou em evidência na semana passada, quando um ataque de mísseis russos no centro do país atingiu um parque infantil, matando 19 civis, incluindo nove crianças.
Hegseth passou a liderança do grupo de contato para o Reino Unido antes de sua última reunião, realizada em 12 de fevereiro. O secretário de Defesa britânico, John Healey, é agora o presidente.
Kiev e vários de seus aliados ocidentais suspeitam que a Rússia esteja paralisando as negociações de propósito. De acordo com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o Kremlin também teria arrastado Pequim para sua invasão e que centenas de cidadãos chineses estavam lutando na linha de frente da Ucrânia ao lado das forças de Moscou, afirmou nesta sexta-feira.
— A partir de agora, temos informações de que pelo menos várias centenas de cidadãos chineses estão lutando como parte das forças de ocupação da Rússia — disse Zelensky aos chefes militares dos países aliados em Bruxelas. — Isso significa que a Rússia está claramente tentando prolongar a guerra, até mesmo usando vidas chinesas.
Anteriormente nesta semana, a Ucrânia disse que suas forças haviam capturado dois cidadãos chineses na região oriental de Donetsk, lutando por Moscou. O Kremlin negou a alegação, enquanto Pequim advertiu as partes envolvidas no conflito contra fazer “comentários irresponsáveis”.
O líder ucraniano também criticou a Rússia nesta sexta por ter recusado um cessar-fogo completo proposto pelos EUA com a aprovação de Kiev, depois que Putin rejeitou no mês passado uma pausa total e incondicional no conflito e condicionou uma trégua no Mar Negro ao levantamento de certas sanções pelo Ocidente.
'Restaurar a confiança'
Trump tem pressionado por uma ampla reaproximação com Moscou, o que produziu alguns resultados. Na quinta-feira, a Rússia libertou da prisão a dançarina de balé americana-russa Ksenia Karelina em troca do suspeito de contrabando de tecnologia Arthur Petrov, a segunda troca entre Moscou e Washington em menos de dois meses.
Karelina, presa em janeiro passado quando viajou à Rússia para visitar a família, estava cumprindo uma sentença de 12 anos por acusações de “traição” depois de ter doado o equivalente a cerca de US$ 50 para uma instituição de caridade pró-Ucrânia.
O chefe do serviço de inteligência estrangeira de Moscou, Sergei Naryshkin, disse nesta sexta-feira que a Rússia discutiria mais trocas de prisioneiros no futuro. Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que as trocas ajudaram a construir a confiança entre os dois lados, que se deteriorou durante o governo do ex-presidente dos EUA, Joe Biden.
— Isso ajuda a construir a confiança, que é muito necessária, mas levará muito tempo para finalmente restaurá-la — declarou aos repórteres.
As delegações dos EUA e da Rússia se reuniram em Istambul na quinta-feira para conversações sobre a restauração do funcionamento de suas embaixadas, que reduziram drasticamente o número de funcionários quando as relações entre as duas potências nucleares esfriaram. Apesar disso, houve pouco progresso significativo no principal objetivo de Trump de alcançar um cessar-fogo na Ucrânia.
Conversas separadas na Arábia Saudita no mês passado resultaram na declaração da Casa Branca de que os dois lados haviam concordado em interromper os ataques aéreos contra alvos energéticos. Mas nenhum acordo formal foi implementado e ambos os lados acusaram o outro de continuar com esses ataques.
(Com AFP e The New York Times)