El Salvador se oferece para ser prisão para deportados e criminosos dos EUA
UOL
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, ofereceu seu país como local de destino de pessoas deportadas pelo governo de Donald Trump. A proposta foi anunciada nesta segunda-feira e, segundo o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, o país centro-americano se ofereceu para receber dos EUA imigrantes de qualquer nacionalidade e mesmo criminosos americanos.
Segundo Rubio, Bukele "concordou com um acordo migratório sem precedentes e mais extraordinário de todo o mundo".
"Ele também se ofereceu para fazer o mesmo com criminosos perigosos atualmente sob custódia e cumprindo pena nos Estados Unidos, embora sejam cidadãos americanos ou residentes legais", disse o americano.
Bukele é acusado por organizações internacionais e entidades de direitos humanos de adotar uma violenta repressão em seu país, sob a justificativa de atacar a criminalidade. A oposição denuncia a proposta.
Manuel Flores, secretário-geral do partido Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, criticou a iniciativa e alertou que isso sinalizaria que a região é o "quintal de Washington para despejar o lixo".
A política de repressão de Bukele causou polêmica no país nos últimos anos. Em fevereiro de 2023, ele anunciou a transferência dos primeiros 2.000 prisioneiros para a "maior prisão das Américas", o "Centro de Confinamiento del Terrorismo" (CECOT).
A abertura dessa "megacárcel" (mega prisão) foi apenas uma das medidas adotadas por Bukele, que conduz uma suposta guerra contra organizações criminosas que operam no país.
Mas, entre 2022 e 2023, 62.000 detenções foram realizadas e os dados da própria polícia salvadorenha estimam que um em cada seis indivíduos presos é inocente. Os cidadãos são até mesmo incentivados a denunciar suspeitos de "terrorismo" por meio de uma linha direta, permitindo que os cidadãos denunciem seus vizinhos simplesmente por terem vinganças pessoais.
Tanto as entidades internacionais quanto os defensores locais dos direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, condenaram a natureza indiscriminada das prisões, facilitada pela eliminação do devido processo legal durante o estado de emergência.
Hoje, mais de 2% da população adulta salvadorenha está atualmente sob prisão.
Rubio passou pelo país em sua primeira viagem ao exterior, depois de assumir o cargo. Sua escolha pela América Central foi estratégica, mandando tanto uma mensagem contra a influência crescente da China. Mas também destacando como a política externa será um instrumento do novo governo americano contra os imigrantes.
Em sua turnê, seu objetivo é o de convencer os países da região a fazer mais para conter os fluxos migratórios. Depois de visitar o Panamá e El Salvador, ele ainda estará na Costa Rica, Guatemala e República Dominicana.
O uso de El Salvador como prisão atenderia ainda o interesse dos EUA em deportar cartéis e grupos criminosos da Venezuela. Caracas e Washington negociam um acordo. Mas a Casa Branca quer um plano B, caso o presidente Nicolás Maduro opte por outro caminho.
Bukele disse que o o acordo que se negocia com Trump "não tem precedentes na história do relacionamento, não apenas dos Estados Unidos com El Salvador, mas acho que também na América Latina".