'Catástrofe iminente': ONU, EUA, UE e vários países pedem que Israel e Hezbollah evitem guerra total

23 de setembro de 2024 às 09:48
Mundo

Vidros estilhaçados em residências próximas ao local atingido pelo ataque de Israel ao reduto do Hezbollah em Beirute, no Líbano — Foto: AFP

O Globo

Em um dia que registrou 150 foguetes, mísseis e drones lançados contra Israel — levando centenas de milhares de pessoas aos abrigos antiaéreos no norte do país — e intensos bombardeios israelenses no sul do Líbano, a ONU alertou que o Oriente Médio está “à beira de uma catástrofe iminente”, enquanto EUA, União Europeia (UE) e Reino Unido, entre outros países, uniram-se às exortações para que os dois lados cheguem a um entendimento.

Os ataques de domingo do Hezbollah foram os mais profundos no território israelense desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023, quando o movimento libanês começou os disparos em solidariedade ao grupo terrorista palestino Hamas, que atacou o sul de Israel de surpresa a partir do enclave, deixando mais de 1.200 mortos e cerca de 240 reféns. Aproximadamente 85 foguetes foram disparados contra a área de Haifa, a maior cidade do norte de Israel, e 24 contra o Vale de Jezreel, entre outros alvos na região de fronteira. Seis pessoas ficaram feridas, e houve vários incêndios.

Comparação entre os poderes militares de Israel e do Hezbollah — Foto: Arte/O GLOBO
Comparação entre os poderes militares de Israel e do Hezbollah — Foto: Arte/O GLOBO

Até 60km da fronteira

Áreas civis e bases militares foram alvo, mas as Forças Armadas israelenses afirmaram ter interceptado a maioria dos projéteis. As sirenes foram acionadas em comunidades a até 60km da fronteira. No Iraque, grupos armados pró-Irã anunciaram ter disparado drones contra Israel, que disse ter interceptado “vários objetos voadores suspeitos”.

Israel deu o troco continuando a bombardear o que identificou como posições do Hezbollah no sul do Líbano. Segundo autoridades libanesas, três pessoas morreram.

Em pronunciamento no enterro de Ibrahim Aqil, chefe da força de elite do Hezbollah morto no bombardeio israelense em Beirute na sexta que deixou ao menos 45 mortos, o vice-líder do grupo xiita, Naim Qassem, afirmou que o movimento entrou numa “nova fase ilimitada de acerto de contas” na batalha contra Israel.

— As ameaças não nos vão deter: estamos preparados para todos os cenários militares — disse Qassem em Beirute, na primeira reação pública do alto comando do Hezbollah após os ataques de sexta-feira.

Por sua vez, o premier Benjamin Netanyahu também subiu o tom em Israel. Em comunicado, ele disse que “nenhum país pode tolerar ataques a seus cidadãos” e afirmou que, nos últimos dias, as forças israelenses “desfecharam uma série de golpes no Hezbollah que eles nunca imaginaram” que poderiam ocorrer. “Se o Hezbollah não entendeu a mensagem, asseguro a vocês que vai entender”, completou. Ele reiterou a promessa de que os mais de 60 mil israelenses deslocados há meses de suas casas por causa dos frequentes ataques na fronteira retornarão a seus lares.

‘Todos os meios’

Ecoando o premier, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, disse que as forças israelenses continuarão a perseguir os objetivos de guerra do país, que na última semana passaram a incluir oficialmente a volta dos cidadãos a suas casas. “É o nosso objetivo, a nossa missão, e empregaremos todos os meios necessários para alcançá-los”, disse o ministro em nota.

Os constantes embates entre Israel e o Hezbollah se intensificaram bruscamente na semana passada, quando milhares de pagers e walkie-talkies do grupo xiita explodiram quase simultaneamente em várias localidades do Líbano na terça e na quarta-feira, matando 39 pessoas e ferindo mais de 3.500. Os ataques foram atribuídos a Israel, que não se pronunciou. Na sexta-feira, com o bombardeio israelense em Beirute que matou dois chefes militares do Hezbollah e mais 43 pessoas, a situação ficou ainda pior, escalando para enfrentamentos mais intensos no fim de semana.

Diante da situação perigosa, membros importantes da comunidade internacional se uniram ontem em exortações para que os dois lados evitem uma guerra total.

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“Embora a região esteja à beira de uma catástrofe iminente, não nos cansaremos de dizer: NÃO existe solução militar que proporcione mais segurança a qualquer uma das partes”, alertou, em post na rede social X, a coordenadora especial da ONU para o Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert.

Em entrevista à CNN, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse no domingo que “há potencial para uma escalada bem mais forte” e que o Líbano arrisca transformar-se em “uma outra Gaza, o que poderia ser uma tragédia devastadora para o mundo”. Ele também criticou a falta de um entendimento entre Israel e o Hamas para pôr fim à guerra em Gaza, que vai completar um ano em outubro.

— Para mim, está claro que ambas as partes não estão interessadas em um cessar-fogo. E isso é uma tragédia, porque essa é uma guerra que deve terminar — disse ele.

‘Civis pagam preço alto’

Já o presidente americano, Joe Biden, afirmou no domingo que os EUA “farão todo o possível para evitar que estoure uma guerra mais ampla”. Mais cedo, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse na rede ABC News que Washington informara ao governo israelense não crer que uma “escalada desse conflito militar seja o melhor para Israel”.

— Ainda acreditamos que pode haver tempo e espaço para uma solução diplomática e estamos trabalhando nisso — completou.

O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, pediu em nota um “cessar-fogo urgente” no Líbano e em Gaza, alegando que “os civis de ambos os lados estão pagando um preço alto”. Os governos de Reino Unido, Alemanha, Egito e Brasil também se juntaram ao coro no fim de semana e exortaram Israel e o Hezbollah a pararem a escalada do conflito.