Opositor rejeita proposta de Amorim de nova eleição na Venezuela

15 de agosto de 2024 às 08:39
Mundo

Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas, recebe a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul Imagem: Adriano Machado/Reuters

UOL

Um dos líderes da oposição venezuelana, António Ledezma, afirma que a ideia sugerida no Brasil de que seu país passe por uma nova eleição, como forma de desbloquear a crise política, não será aceita.

Em entrevista exclusiva ao UOL, o ex-prefeito de Caracas que fugiu para a Espanha insiste que o movimento político encabeçado por Edmundo Gonzalez e Maria Corina Machado venceu a eleição do dia 28 de julho. Nicolas Maduro rejeita a postura da oposição e diz que foi ele quem venceu.

"A ideia de uma nova eleição está fora de lugar", afirmou Ledezma, coordenador do Conselho Político internacional de Maria Corina Machado.

"Não se justifica e nem se explica a ideia de falar de um segundo turno, em um país onde Edmundo Gonzalez venceu com mais de 30 pontos percentuais de vantagem", destacou. Segundo ele, o que ocorreu na Venezuela não se assemelha ao cenário da eleição brasileira de 2022, quando Luiz Inácio Lula da Silva superou Jair Bolsonaro por uma pequena margem.

"Esses 30 pontos de vantagem não contabilizam o fato de que 4 milhões de venezuelanos não conseguiram votar. Caso eles estivessem ido às urnas, a diferença seria ainda maior", justificou.

"Propor uma nova eleição é virar as costas ao princípio da soberania popular", disse Ledezma, que vive em Madri. "Seria privilegiar os caprichos de um ditador", insistiu.

Nesta semana, as conclusões preliminares dos observadores da ONU indicaram que o processo eleitoral venezuelano foi marcado por irregularidades e que a falta de transparência é "sem precedentes" na história recente das democracias.

Como forma de desbloquear o impasse, o assessor especial da presidência brasileira, Celso Amorim, sugeriu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ideia da convocação de uma nova eleição. Isso seria acompanhado por um processo de retirada de sanções que, por sua vez, permitiria que Maduro estivesse disposto a receber uma quantidade significativa de observadores internacionais.

Oficialmente, o governo brasileiro insiste que a posição do país não mudou: Lula quer que Maduro publique as atas de cada uma das sessões da eleição. Mas fontes admitiram que o vazamento da ideia de Amorim servia para testar a reação dos principais atores na Venezuela e mesmo dos parceiros internacionais.

Ledezma também lamentou a decisão do governo mexicano de se afastar do processo conduzido por Brasil e Colômbia para tentar criar canais de diálogo entre a oposição e Maduro. O líder mexicano Andrés Manuel Lopez Obrador sugeriu que, se houver uma disputa, que ela seja resolvida pelas instituições venezuelanas.

"É lamentável que Mexico não queira continuar no processo de convencer Maduro que admita a derrota", disse o ex-prefeito de Caracas. "Dizer que o caso deve ser levado à Justiça é desconhecer que não há uma autonomia dessa instituição. Essa é a mesma Justiça que inabilitou Maria Corina Machado e que queria anular as primarias da oposição. É a mesma Justiça que é presidida por uma ativista de Maduro", alertou o opositor.

"As atas existem e estão com Maduro, que as mantém escondidas", completou.