Operação Estágio IV: pousada de filho de secretário afastado tem diárias de até R$ 650 em plataforma de reservas
Por Vinícius Rocha/ Francês News
A investigação da Operação Estágio IV, que apura um suposto desvio de R$ 100 milhões na área da saúde em Alagoas, ganhou mais um elemento relevante. Além de comprada por R$ 5,7 milhões e ter sido sequestrada pela Polícia Federal, a pousada de alto padrão localizada em Porto de Pedras, no Litoral Norte do estado, aparece com valores expressivos de hospedagem em uma famosa plataforma internacional de reservas online.
Segundo levantamento feito pelo Francês News, as diárias anunciadas na plataforma giram em torno de R$ 450 quando o empreendimento opera sob o nome Pousada Reserva Tatuamunha. Já no período em que funcionava como Pousada Rancho Luar, os valores chegavam a aproximadamente R$ 650 por diária, a depender da data e do tipo de acomodação.
O imóvel está registrado em nome de Gustavo Pontes de Miranda Oliveira Filho, filho do então secretário de Estado da Saúde de Alagoas, Gustavo Pontes de Miranda Oliveira, que foi afastado do cargo após o avanço das investigações. Atualmente, a pousada está formalmente vinculada à empresa Pousada Reserva Tatuamunha LTDA, de CNPJ 61.443.951/0001-20, fundada em junho de 2025. Antes disso, operava como Pousada Rancho Luar LTDA, CNPJ 51.226.507/0001-07, criada em junho de 2023, tendo o mesmo sócio-administrador.
Nomeação às vésperas da operação
Outro ponto que chama atenção é a proximidade temporal entre a nomeação de Gustavo Filho para um cargo no governo estadual e a deflagração da operação. Em 5 de novembro de 2025, pouco mais de um mês antes da ação da PF, o governador Paulo Dantas (MDB) nomeou Gustavo Filho como superintendente de Pesca e Aquicultura da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), por meio do Decreto nº 105.210, publicado no Diário Oficial do Estado.
Após a repercussão da operação, Gustavo Pontes de Miranda Oliveira Filho retirou de sua bio no Instagram os links diretos para os perfis das duas pousadas. Em seguida, o perfil pessoal foi fechado, restringindo o acesso às publicações apenas a seguidores aprovados, o que ocorreu em meio ao avanço das investigações da Polícia Federal.
Suspeita de lavagem de dinheiro
De acordo com a Polícia Federal, o imóvel integra um suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo recursos desviados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). As investigações apontam que a pousada teria sido paga com valores provenientes de contratos superfaturados, custeados por empresários beneficiados pelos esquemas, com o registro do bem em nome de terceiros, os chamados “laranjas”.
A revelação de que o imóvel estaria diretamente ligado a um familiar do secretário investigado acrescenta um novo grau de gravidade ao caso, segundo fontes ligadas à apuração.
Afastamento e desdobramentos
O secretário Gustavo Pontes foi afastado do cargo por 180 dias, horas após o início da operação. Há informações ainda não confirmadas oficialmente de que ele teria sido detido pela Polícia Federal, fato que não foi comentado pela assessoria do governo estadual.
A Operação Estágio IV cumpriu 38 mandados judiciais e investiga, além do desvio global de R$ 100 milhões, R$ 18 milhões em superfaturamento de ressarcimentos do SUS. Durante as diligências, a PF apreendeu grandes quantias em dinheiro, moeda estrangeira e armas, ampliando o alcance e a complexidade das investigações.