Em evento da SSP-AL, palestrante causa revolta ao sugerir que imprensa alagoana tem ligação com crime organizado
Por Ellen Gonzaga/Francês News
Em palestra durante um curso da Secretaria Estadual de Segurança Pública de Alagoas (SSP-AL), no último dia 14 de novembro, o coronel da reserva do Exército, Márcio Saldanha Walker, que atua como consultor de comunicação estratégica, sugeriu que veículos de comunicação de Alagoas eram financiados pelo crime organizado. A fala provocou reação da imprensa alagoana e a SSP, em nota, lamentou o ocorrido.
Durante a palestra para policiais e membros da segurança pública alagoana, parte do Curso Básico de Operações Psicológicas realizado pela SSP e que teve transmissão no canal oficial do órgão no Youtube, Márcio trouxe uma série de opiniões pessoais e classificou reportagens de veículos de comunicação do estado que denunciavam a violência policial ou institucional, como reportagens orquestradas em benefício do crime organizado.
A SSP-AL retirou o vídeo da palestra do ar, após a repercussão negativa do conteúdo.
A Mídia Caeté, veículo de mídia independente de Alagoas, mencionado durante a palestra, emitiu uma nota de repúdio às falas feitas durante o evento. Segundo o veículo, Walker exibiu reportagens que tratam de questões indígenas e políticas públicas para a população em situação de rua, distorcendo os contextos ao alegar que traficantes estariam infiltrados entre povos indígenas.
“Foi estarrecedor assistirmos à chamada de uma de nossas matérias, onde mostra um ritual sendo classificado como ‘NARCOCULTURA’”, destacou a nota.
“Ao repúdio, somamos a reafirmação de que performances como essa não nos silenciarão.
Seguiremos desempenhando o mesmo jornalismo independente, ético, direcionado ao interesse público e ainda mais atento a qualquer violação aos Direitos Humanos, inclusive e sobretudo às violações institucionais”, completou a Mídia Caeté.
Durante a apresentação, o palestrante ainda orientou os participantes policiais militares e civis a cometerem censura, ao sugerir que eles “não permitissem” que certas palavras fossem utilizadas pelo periódico. Reportagens de outros veículos também foram usadas pelo palestrante, que aconselhou os policiais a ligarem para repórteres para exigir que “corrijam” o que não esteja alinhado ao interesse da instituição.
Vale destacar que o próprio palestrante afirmou, logo no início, que o “case” apresentado foi elaborado em parceria com a Secretaria de Segurança Pública de Alagoas, por meio do coordenador pedagógico do curso, coronel Ruamário Jerônimo. A declaração indica que o conteúdo da palestra não foi produzido de forma isolada, mas contou com participação direta de representantes da cúpula da Segurança Pública.
Além da Mídia Caeté, diversos veículos foram expostos ao longo da palestra, como a Gazeta de Alagoas, Extra, G1 Alagoas, Redação Alagoas, Alagoas 24 Horas, entre outros.
Em nota, a Secretaria de Estado da Comunicação lamentou as declarações feitas pelo palestrante e reafirmou o compromisso com a liberdade de imprensa e com o respeito absoluto ao trabalho jornalístico.
“A fala não representa — em nenhuma circunstância — a posição do Governo. Nossa política é clara: defesa da liberdade de imprensa, valorização da atividade jornalística e diálogo permanente com os profissionais de comunicação. Por isso, repudiamos o teor da declaração”, escreveu o governo.
Veja a nota na íntegra:
NOTA OFICIAL
A Secretaria de Estado da Comunicação lamenta a declaração feita por um palestrante em evento recente do Governo de Alagoas e reafirma seu compromisso histórico com a liberdade de imprensa e com o respeito absoluto ao trabalho jornalístico.
A fala não representa — em nenhuma circunstância — a posição do Governo. Nossa política é clara: defesa da liberdade de imprensa, valorização da atividade jornalística e diálogo permanente com os profissionais de comunicação. Por isso, repudiamos o teor da declaração.
Reconhecemos e agradecemos o trabalho sério da Mídia Caeté, do Extra Alagoas e de toda a imprensa alagoana, cujo papel é decisivo para garantir informação de qualidade e fortalecer a democracia.
Esta gestão reativou o Conselho de Comunicação Social, instalou o Núcleo de Integridade da Informação, reequiparou o salário do assessor de comunicação ao piso da categoria e consolidou uma relação madura, transparente e respeitosa com a imprensa. Comunicação profissional é pilar de instituições fortes e de uma sociedade melhor informada.
Nosso compromisso permanece firme e inalterado.
Nesse mesmo sentido, deixamos claro que nunca houve, na SSP, qualquer tipo de cerceamento da informação ou ação que pudesse, de alguma forma, dificultar ou impedir o trabalho da imprensa. Pelo contrário — sempre atuamos com transparência, parceria e total respeito ao papel fundamental dos veículos de comunicação no fortalecimento da segurança pública e no serviço à sociedade.