‘Concentração de renda no mundo está atingindo patamares inimagináveis’, diz Fernando Haddad

04 de julho de 2025 às 14:28
DESIGUALDADE

Foto: reprodução

Por redação com O Globo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu que os países do Sul Global discutam a tributação internacional enquanto enfrentam restrições fiscais, sobretudo após a crise de 2008 e a pandemia terem desorganizado as finanças globais.

Em seminário no encontro anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) sobre os desafios para financiar o desenvolvimento sustentável do Sul Global, ele frisou que a concentração de renda no mundo alcançou patamares inimagináveis e que é preciso revisar impostos sobre grandes fortunas.

- Houve uma redução muito grande das alíquotas de impostos cobrados dos super-ricos, praticamente em todo o mundo. Isso precisa ser repensado – ponderou Haddad. - A concentração de renda no mundo está atingindo patamares inimagináveis. As fortunas individuais estão atingindo patamares inimagináveis.

Impacto a países devedores em moeda forte

O ministro afirma que os países seguirão por algum tempo passando por restrições fiscais importantes. E, mesmo com o recuo das taxas de juros, o que ele afirma que ainda vai demorar a ocorrer, o quadro fiscal é preocupante “tanto no mundo desenvolvido quanto dos países devedores em moeda forte”, como ocorre com países de África, Ásia e América do Sul.

Nelson Barbosa, diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos do BNDES e ex-ministro da Economia e do Planejamento do governo Dilma Rousseff, que participa do mesmo seminário que Haddad na tarde desta sexta-feira, salientou que há ao menos três pontos urgentes a serem tratados pelos países: transição energética, transição digital e transição demográfica.

- Temos países que ou estão enfrentando graves restrições fiscais domésticas ou enfrentando constrangimentos externos muito significativos. E as urgências colocadas pelo ex-ministro Nelsinho Barbosa são prementes, urgentes – destacou Haddad.

Ele afirmou que é preciso ir além dos regramentos propostos pela OCDE para a tributação internacional para reverter a redução na tributação sobre grandes fortunas observada desde os anos 1970 ou 1980, a depender do país.

O ministro da Fazenda ponderou que, num planeta com 8 bilhões de habitantes, 3 mil famílias acumulam uma riqueza da ordem de US$ 15 trilhões.

- Se nós não ousarmos um pouco e não formos para além de mecanismo de financiamento, nós vamos ter muita dificuldade de enfrentar os desafios humanos que estamos enfrentando.

Ele ressaltou que a inteligência artificial (IA), a despeito de impactos positivos que possa trazer, trará mudanças “dramáticas” ao mercado de trabalho, demandando mudanças na formação das pessoas, na educação.

Mecanismo de finanças globais

Ele pontuou ainda que os eventos climáticos extremos já são uma realidade, citando as enchentes o Rio Grande do Sul no ano passado. E que nem todos os países contam com recursos para socorrer áreas impactadas por esses desastres.

Nesse sentido, Haddad avalia que o alinhamento entre os bancos multilaterais e novos mecanismos pós-Bretton Woods, acordo que regrou a economia global após a Segunda Guerra, com o objetivo de refinanciar o desenvolvimento “serão insuficientes”.

- A organização das finanças nacionais, nos termos de Bretton Woods, tem que ser superada por uma visão de administração internacional das finanças globais, porque os problemas não são mais nacionais – disse, frisando a importância de olhar para a questão da desigualdade para financiar o desenvolvimento sustentável.