Palhaço, cruz e saci: decodificando as tatuagens no mundo do crime

08 de junho de 2025 às 07:50
Brasil

Foto: Reprodução

Metropoles

Cada vez mais popular na sociedade, as tatuagens, antes alvo de extremo preconceito, ainda podem servir de identificação para criminosos. Para além do palhaço, no universo dos delitos os desenhos são usados como uma espécie de etiqueta que, marcados na pele, revelam segredos obscuros àqueles que entendem do tema.

Para o promotor de Justiça Fernando Pascoal Lupo, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), que escreveu um artigo sobre o tema, entender os significados das tatuagens, sobretudo das gravadas na pele de presidiários, pode ser um valioso auxílio à investigação policial, servindo até mesmo para antecipar uma ação criminosa.

“Alguns desenhos podem parecer inofensivos devido às suas cores e traços simples e delicados, mas podem esconder motivos e até mesmo confissões bárbaras e cruéis”, analisou.

No mundo do crime, as gravuras revelam fichas criminais extensas, grau de periculosidade, sua especialidade na delinquência e cargo na hierarquia do crime.

“No sistema prisional brasileiro ou de qualquer país os detentos se tatuam para mostrar a facção a qual pertencem, os crimes que cometeram, a trajetória no mundo do crime. As tatuagens não são feitas para enfeitar ninguém, elas revelam quem é o preso, o crime que praticou e o que se deve sentir por eles, seja medo, ódio ou desprezo”. (Subtenente PMDF Assis Araújo: A marca do criminoso, 2010).

Muitas vezes, as tatuagens são feitas dentro do sistema penitenciário. Segundo o promotor, as tatuagens de cadeia são uma forma de comunicação dos presos acerca de assuntos sobre os quais eles não gostam de comentar.

“Apenas quem está integrado a esse meio marginal capta o significado dessas informações. Inúmeras são as tatuagens ligadas ao mundo do crime, muitas das quais contam com diversas variantes, dependendo do tamanho, quantidade ou lugar onde são gravadas”, ensinou.

Confira abaixo um guia com os significados das principais tatuagens gravadas na pele pelos criminosos:

  • O palhaço: tem ligação com assaltantes, quadrilheiros ou matadores de policiais. Se tiver lágrimas pretas, revela amigos mortos por rivais; lágrimas vermelhas, amigos mortos pela polícia. Se for acompanhada por caveira, é assassino de policiais, e a quantidade de caveiras varia de acordo com o número de policiais que matou.
  • Pontos: Geralmente, tatuados na mão classificam o criminoso. Um ponto indica o estágio inicial – batedor de carteiras; Dois pontos, o estuprador; Três pontos, o viciado em drogas; Quatro pontos, o traficante; Cinco pontos, o homicida (hierarquia do crime).
  • Saci: personagem do folclore brasileiro, identifica traficantes ou usuários de drogas. Já o sacizeiro, que remete ao cachimbo do saci, é ligado ao usuário de crack.
  • Folha da maconha, gnomo, mago, bruxo e duendes: tatuagens associadas ao tráfico e uso de drogas. As imagens do mago ou do bruxo também representam assalto a ônibus e a estabelecimentos comerciais, especialistas em armas e explosivos.
  • Mulher nua, com genitália à mostra: é utilizada por viciados em drogas injetáveis.
  • A âncora, a estrela de Salomão, a espada cruzada e o arco e a flecha: servem como proteção das prisões e emboscadas.
  • A cruz com um crânio indica lealdade criminal: identificam indivíduo já condenado, que é leal ao colega de cela, que guarda segredo.
  • Cobra enrolada ou cobra: por outro lado, essas identificam criminosos delatores.
  •  A Sereia, borboleta, o golfinho ou desenhos de uma “boneca sexual”, com a inscrição: “amor só de mãe” em coração cortado por flecha, com o nome dela significando desculpas à própria genitora:  Figuras que identificam estupradores
  • Pênis: o órgão genital é tatuado em estupradores, nas costas ou em lugar visível, para que sirvam de escravo sexual na cadeia.
  • Jesus Cristo crucificado, com a coroa de espinhos ou só com a inscrição JC: figuras relacionadas com o homicida.
  • Inscrição JC: nos braços, pernas ou peito é ligada a um latrocida. Nas costas, um pedido de proteção.
  • O Chucky (personagem do filme “O brinquedo assassino), o punhal atravessando um crânio humano ou um coração: indicam assassinato de policiais.
  • Caveira: usada por presos que cometeram homicídio.
  • A morte com foice: representa presos ligados a grupos de extermínio.
  • O diabo: revela pistoleiros e matadores de aluguel.
  • Imagem de Nossa Senhora de Aparecida: se relaciona com homicídios e latrocínios
  • A espada e o punhal: indicam indivíduo perigoso e destemido, que matou com arma branca.
  • Figura do demônio: sugere aquele que mata por gosto.
  • Serpente ou a inscrição X-9: indica que o preso é traíra
  • Arame farpado: significa que o preso é um “dedo duro” ou assaltante há muito tempo detido.
  • Aranha: revela que o bandido age em grupo, que é perigoso. Se a aranha estiver subindo pela teia, indica “ascensão na carreira”. Se tiver várias aranhas, é um líder, conselheiro.
  • Teia de aranha: tatuada na mão, antebraço, cotovelo ou perna, significa lembrança do comparsa que morreu.
  • Taz (tasmânia, personagem do desenho): está ligada ao furtador, ao ladrão que age em grupo, que promove arrastões.
  • Polvo: traduz capacidade de escapar de predadores, ligados a roubadores e arrombadores.
  • Pomba: significa sorte e bons ganhos, utilizada por ladrões de residências.
  • Carpa: indica símbolo de prosperidade e fertilidade, mas com sua cabeça apontada para cima, quer dizer que o indivíduo está em ascensão dentro do crime organizado.
  • Águia: simboliza liberdade. É desenhada no período de término da pena.
  • Mulher indígena: figura comum nos presídios cariocas nas décadas de 1980 e 1990, era usada por detentos ligados ao tráfico de drogas nos presídios. Indicava os soldados do morro, aqueles que poderiam usar fuzil.
  • Flor, beija-flor ou borboleta: representam a homossexualidade passiva dentro da cadeia
  • Pistola e revólver: na perna, peito ou costas, traduzem assalto a mão armada, latrocida.
  • Fuzil: preso de alta periculosidade.
  • Integrantes de facções criminosas se identificam pelas iniciais da própria sigla.
  • Suástica: associada ao crime de intolerância
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