'A terra me pariu': ritual enterra pessoas vivas em retiro espiritual no DF
UOL
Em um retiro de quatro dias em uma chácara no Distrito Federal, participantes se submetem voluntariamente a um ritual que simula o próprio enterro, como forma de renascimento simbólico.
A prática faz parte de um ritual chamado "Renascimento Xamânico", promovido pela Casa Semente Experience, que conduz retiros espirituais com medicinas da floresta e rituais terapêuticos. Vídeos que mostram os participantes sendo enterrados vivos viralizaram nas redes e geraram reações diversas. Comentários como "Meu avô fez isso em 96, gostou tanto que ficou" ou "As minhocas: hoje tem carne fresca" se multiplicaram no Instagram.
A Casa Semente afirma que a proposta do ritual é promover reconexão com a natureza e com a própria existência. "É como retornar ao útero da Terra. Respirar com ela, entregar o que já não nos serve e nascer de novo", explica Lila Sousa, terapeuta integrativa e idealizadora do projeto ao lado da irmã e sócia Priscila Sousa, que também atua como terapeuta no espaço.
Antes do ritual, os participantes passam por uma anamnese e são orientados sobre todos os detalhes da experiência. Grávidas e idosos podem participar, desde que estejam com boa saúde. Durante o enterramento, Lila, Priscila ou outra facilitadora permanece o tempo todo ao lado do participante, orientando e tranquilizando com palavras e acompanhamento direto.
O ritual é feito com o participante deitado em uma cova rasa, com o corpo coberto de terra e o rosto protegido por um pano fino. Segundo as facilitadoras, o pano serve para evitar que terra entre nos olhos, ouvidos e nariz, e também permite a respiração. A respiração deve ser lenta e consciente.
A média de tempo varia de três a sete minutos, mas há casos em que o enterramento dura mais — sempre com supervisão direta. Quando deseja sair, o participante levanta a mão e é imediatamente retirado da terra, com auxílio das terapeutas.
Grávidas, idosos e pessoas com histórico de dor crônica já participaram da vivência. A Casa afirma haver uma conversa prévia com todos, incluindo anamnese emocional e física. A participação no ritual é opcional e só ocorre com o consentimento expresso do participante.
O que dizem os "enterrados vivos"
Participantes do ritual relataram ao UOL experiências profundas e transformadoras. Muitos mencionaram o simbolismo de entregar o corpo à terra como uma metáfora para soltar dores, medos e versões antigas de si mesmos.
Alguns chegaram ao ritual com ansiedade ou histórico de depressão. Outros se entregaram à vivência com leveza e confiança. Todos afirmam que saíram diferentes — mais presentes, mais vivos ou mais conscientes do que desejam da vida.