Filha de ex-promotor condenado por crimes sexuais repudia decisão que o colocou em prisão domiciliar
Por redação
Surpresa e revoltada com a decisão da Justiça de Alagoas que concedeu prisão domiciliar ao ex-promotor de Justiça Carlos Fernando Barbosa de Araújo, condenado a 76 anos e 5 meses de prisão por crimes sexuais contra duas filhas e uma enteada, Luana Rodrigues, uma das vítimas, manifestou publicamente sua indignação e temor pela própria segurança.
A decisão, tomada em março deste ano, determinou a progressão para o regime semiaberto, mas como a Colônia Penal está interditada, Carlos Fernando passou a cumprir a pena em casa. A medida gerou revolta em Luana, que sofreu abusos do pai dos 11 aos 23 anos.
Nesta sexta-feira (30), Luana buscou apoio na Casa da Mulher Alagoana Nise da Silveira e afirmou que pretende acionar o Ministério Público para questionar a decisão. Ela desejava medida protetiva, mas foi informada de que não seria necessária enquanto o agressor permanece em prisão domiciliar.
“Olha, bastante indignação, vou ser muito honesta. Eu achei lamentável uma decisão que privilegiou, vou dizer que foi isso, que beneficiou uma pessoa com uma condenação extensa de 76 anos para cumprir e passar somente 12 anos presa. Eu posso falar enquanto denunciante, que fui vítima também, mas posso falar como sociedade, não me sinto confortável nem posso celebrar uma decisão dessa”, disse.
Luana considera que a medida representa risco à sociedade, sobretudo pela natureza dos crimes cometidos e pelo histórico do pai.
“Agora ele está confortável. O que garante à nossa sociedade, a nós, que ele não está tendo acesso à internet? Ele tinha no computador da promotoria onde trabalhava muitos arquivos que mostraram a hediondez do que ele praticava”, relatou, referindo-se à pornografia e pedofilia encontradas com o ex-promotor.
Ela lembrou ainda o dia em que quase perdeu a vida:
“Eu lamento enquanto pessoa que sofre na pele, que só não foi pior, porque graças a Deus, o Oplit me salvou no dia que ele tentou me matar, quando ameacei denunciar tudo o que ele fez.”
Para Luana, a progressão de pena foi premeditada pelo ex-promotor:
“Ele é ex-promotor de justiça, ciente de tudo que a lei tem para lhe beneficiar. Foi ler livros, fazer faculdade. Ele sabia que aquilo ia beneficiá-lo com diminuição de pena. Levamos 10 anos para ouvir a sentença que finalmente fez justiça. Foram idas e vindas de depoimentos.”
Sobre a luta para denunciar o pai, ela desabafou:
“Não era só porque era meu pai. Ele gritava: ‘eu sou a lei’. Pois é, ele sabe tudo sobre a lei. Mas a lei que eu acredito é essa que está avançando em relação às vítimas, mas que infelizmente beneficiou ele. Quando tinha 14 anos, tentei tirar minha vida.”
Luana teme que ele cumpra a ameaça de matá-la, feita no último contato entre os dois:
“Ele me olhou nos olhos e disse que, quando fosse solto, me mataria. Meu sentimento é de indignação e receio. Ainda acredito que a justiça irá avançar.”
Condenação
Carlos Fernando foi condenado por estupro, atentado violento ao pudor e produção de material pornográfico com crianças. Os crimes foram cometidos de forma reiterada contra filhas e enteada. O processo tramitou no Tribunal de Justiça de Alagoas após determinação do STJ.
Além da condenação, ele perdeu o cargo público e foi declarado incapaz de exercer o poder familiar, tutela ou curatela. Após ser considerado foragido, sua prisão preventiva foi decretada em 2014. A execução da pena passou a tramitar regularmente após a digitalização do processo em 2019.
Mesmo com os precedentes legais que respaldam a prisão domiciliar, o caso gera forte reação social e levanta questionamentos sobre os limites da lei frente à gravidade de crimes como os cometidos pelo ex-promotor.