Após caos e tiroteio, ONU critica sistema israelense de ajuda humanitária em Gaza
g1
A ONU criticou nesta quarta-feira (28) um novo sistema de entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, implementado e supervisionado por Israel. As críticas ocorrem após um palestino ter sido morto e mais de 40 ficarem feridos em um ataque a tiros na terça-feira durante uma entrega caótica de alimentos.
O tema da ajuda humanitária em Gaza ficou em evidência por conta do agravamento da crise humanitária sem precedentes vivida pelos 2,3 milhões de palestinos e pela retomada da distribuição, controlada por Israel, de suprimentos. A guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas no território completou 600 dias nesta quarta.
“O modelo de distribuição de ajuda proposto por Israel não está alinhado com os princípios humanitários fundamentais”, afirmou o diretor da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, a jornalistas em Tóquio.
A nova entrega de ajuda humanitária agora é controlada e intermediada pelo Exército israelense, que instalou pontos de distribuição ao longo do território palestino. Agora, em vez de agências da ONU, os suprimentos são fornecidos pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma organização apoiada pelos Estados Unidos.
O desespero por comida fez com que palestinos invadissem um centro de distribuição da GHF em Rafah, no sul de Gaza, em busca de comida. Em meio ao caos, tiros foram disparados e deixaram um morto e 47 feridos, segundo a ONU — 48 feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. Israel negou ter realizado os disparos. Nesta quarta-feira, a GHF suspendeu temporariamente a entrega de alimentos.
A ONU e várias ONGs se recusaram a participar nas operações da GHF. Lazzarini reiterou suas críticas ao novo modelo de distribuição de ajuda humanitária.
"Acredito que é um desperdício de recursos e uma distração das atrocidades. Já contamos com um sistema de distribuição de ajuda adequado para este fim", afirmou Lazzarini durante visita ao Japão.
Sem perspectivas para o fim da guerra em Gaza, iniciada após o ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro de 2023, os palestinos se veem cada vez mais pressionados pela fome e a escassez de suprimentos. Israel fez um bloqueio total de ajuda humanitária por cerca de 11 semanas, e começou na semana passada a liberar uma entrada limitada de suprimentos.
"Passaram 600 dias e nada mudou. A morte continua e os bombardeios israelenses não param. Até esperar por um cessar-fogo parece um sonho e um pesadelo", disse Bassam Dalul, de 40 anos. Sua família, que foi deslocada à força 20 vezes desde o início do conflito, sobrevive apesar da escassez de alimentos, água potável energia elétrica e até medicamentos.
A angústia das famílias dos reféns
A população palestina continua sob bombardeios e a Defesa Civil da Faixa de Gaza relatou 16 mortes nesta quarta-feira em ataques aéreos.
Entre as vítimas estavam nove pessoas da família do repórter cinematográfico Osama al-Arbid, que morreram em um ataque contra sua residência na área de Al-Saftawi, norte de Gaza.
"Morrer nos bombardeios é muito melhor do que morrer pela humilhação da fome e de não poder dar pão e água a seus filhos", disse Jabr à agência de notícias AFP.
Israel rompeu em meados de março uma trégua de dois meses no conflito contra o Hamas e retomou sua ofensiva sobre o território controlado pelo movimento islamista palestino.
Em 17 de maio, o país intensificou suas operações com o objetivo declarado de eliminar o Hamas, libertar os reféns israelenses ainda em cativeiro e tomar o controle do território.
A guerra começou com o ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que resultou nas mortes de 1.218 pessoas do lado israelense, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
A ofensiva militar de Israel em Gaza deixou mais 54 mil mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território, considerados confiáveis pela ONU.
Os milicianos islamistas também sequestraram 251 pessoas no ataque de outubro de 2023. Do grupo, 57 permanecem em cativeiro na Faixa, mas 34 são consideradas mortas, segundo as autoridades israelenses.
A imprensa israelense recorda os "600 dias" desde o início do conflito, com manchetes sobre o sofrimento das famílias dos reféns.