Advogados de AL, MT, MG, MA, PE, RN, BA e PI falam em entrevista exclusiva sobre suas experiências na advocacia
Por Redação, Carlos Maravilhense
Em uma entrevista exclusiva, advogados e advogadas de diferentes regiões do Brasil — representando os estados de Alagoas, Mato Grosso, Minas Gerais, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia e Piauí — compartilham experiências que marcaram suas trajetórias profissionais. Com atuações diversas, que vão do Direito Criminal ao Previdenciário, passando por causas sociais e enfrentamento do preconceito, os relatos revelam os bastidores da advocacia sob múltiplos olhares.
As histórias abordam desde os desafios iniciais na carreira até momentos de transformação pessoal e profissional, ressaltando o impacto humano do exercício da advocacia. Com depoimentos que refletem coragem, empatia, resistência e propósito, os profissionais evidenciam que, mais do que aplicar normas jurídicas, o Direito também é uma ferramenta de escuta, acolhimento e justiça social.
May André Ferreira dos Santos – OAB/AL
"Atuo na seara do Direito Criminal, área que lida diretamente com o peso das consequências jurídicas sobre a vida do ser humano. Defender não é apenas um ofício, é uma missão que exige coragem, técnica e compromisso com a justiça. Já atuei em diversos casos complexos, mas lembro de um em que um homem acusado de homicídio doloso, crime grave, enfrentava não só a pena severa, mas também o julgamento da sociedade. Ao analisar os autos, percebi falhas nas provas: testemunhos frágeis, falta de evidência material e contradições na investigação. Atuei com firmeza, demonstrando a inconsistência da acusação. Em plenário, defendi que a dúvida deve absolver, não condenar, como determina o ordenamento. O júri entendeu e meu cliente foi absolvido. Mais que uma vitória, foi a reafirmação da presunção de inocência e do direito a um julgamento justo."
Geovana Calacio – OAB/MT
Ela conta que, em um dia cheio e cansativo, uma mãe a procurou em busca de orientação para o tratamento do filho autista. A situação era simples do ponto de vista jurídico, pois ela tinha direito garantido por lei, mas estava desorientada e sem litígio. Geovana decidiu ouvir com atenção por quase uma hora, entendendo a rotina exaustiva da mãe e suas dúvidas sobre o processo burocrático. Após organizar e explicar passo a passo, a cliente disse: "Agora eu entendi. Tava tudo embaralhado na minha cabeça, e a senhora organizou direitinho". Isso fez Geovana perceber que o verdadeiro papel do advogado vai além das teses e audiências; é ouvir, interpretar com empatia e organizar com clareza, servindo de ponte entre a confusão do cotidiano e os direitos existentes. Para ela, advogar é acolher, traduzir e devolver o controle a quem já tem direitos, mas só precisava de alguém para mostrar o caminho. Esse atendimento simples revelou a potência real da profissão: o Direito é um instrumento para organizar as relações humanas à luz da justiça.
Gilberto Souza, OAB/MG
"Muita gente acha que advogado criminalista 'defende bandido'. Mas, na prática, o que a gente defende é o devido processo legal, o direito de defesa e o respeito às garantias constitucionais. Nosso trabalho não é dizer se o réu é inocente ou culpado, isso é com o juiz. A gente garante que ele seja julgado de forma justa, com base nas provas e dentro da lei. Porque se abrimos mão disso hoje, amanhã qualquer um pode ser preso ou condenado sem chance de se defender. E aí o problema deixa de ser do 'bandido' e vira de toda a sociedade."
Blenda Nava Abreu e minha OAB/MA
"Durante a faculdade de Direito, ainda não havia encontrado uma área que me identificasse. No estágio na Advocacia-Geral da União, tive meu primeiro contato com o Direito Previdenciário e algo despertou em mim. Ali percebi que poderia usar o Direito para cuidar de pessoas, acolhendo-as em momentos de fragilidade, como viúvas, órfãos e idosos. Enxerguei na advocacia previdenciária uma missão. Meu primeiro caso foi o do meu tio, que sofria com um auxílio-doença negado pelo INSS. Assumir sua causa foi um gesto de amor e responsabilidade. Quando garantimos seu benefício, vi nele alívio, dignidade e esperança. Foi ali que encontrei meu propósito. Desde então, enfrento os desafios da advocacia com coragem, sempre ciente de que cada cliente é uma vida que pode ser transformada, e eu sou grata por fazer a diferença".
Jairo Arturo OAB/PE
"A primeira dificuldade que lembro é nos estudos para a prova da OAB, que é complexa e faz você se sentir pouco preparado, pois o ensino nas faculdades costuma ser básico. Por isso, muitos recorrem a cursinhos. Esse desafio já mostra a qualidade do profissional que as faculdades formam. Depois de aprovado, ainda há o juramento e custos como anuidade, carteirinha e certificado digital, o que pesa para quem está começando e tem renda baixa ou pouca rede de apoio. A OAB costuma cobrar menos dos "Jovens Advogados", mas o desafio persiste. Além disso, os escritórios geralmente pagam mal, descumprindo pisos salariais, e o excesso de demanda leva a muitas horas extras, tornando o trabalho pesado. Muitos escritórios até exigem carro. Nos estágios, os valores são baixos ou inexistentes, sendo comum o "pagar para trabalhar", especialmente em órgãos como a defensoria pública".
Luiz Diógenes de Sales, OAB/RN
"Atuo no direito previdenciário, pra mim é uma satisfação, posto que é uma área do Direito que vem ao encontro dos desamparados, pessoas que tiveram seus benefícios ou aposentadorias negadas pelo INSS. nesse sentido, já presenciei várias experiências que me tocaram, em uma delas um cidadão que já havia tentado várias vezes se aposentar como agricultor, porém, as provas matérias eram poucas, em que pese fisicamente já demonstrar o trabalho na agricultura. Na audiência prestes a ser negado mais uma vez, por falta de provas, eu solicitei o juiz que olhasse as mãos e os pés do cliente. Ao realizar essa inspeção. O juiz constatou a qualidade de segurado como agricultor e julgou procedente o pedido".
Wesley Ferreira OAB/BA
"Iniciar a carreira na jovem advocacia não é fácil, não só pelos desafios técnicos, mas pelo preconceito. Muitas vezes, a juventude é vista como sinônimo de inexperiência e falta de capacidade. Meu maior obstáculo foi a desconfiança de clientes e colegas mais experientes, que me subestimavam por falta de 'tempo de estrada'. Em um caso complexo, uma cliente disse: 'Achei que o senhor fosse mais velho', e o advogado adversário me via como uma presa fácil. Porém, eu sabia que a experiência verdadeira está no preparo técnico e na aplicação estratégica do conhecimento. Na audiência, mostrei que, apesar da juventude, minha preparação era sólida. Quando minha cliente venceu, percebi que superei não só um caso, mas as expectativas baseadas em preconceitos. Essa experiência me ensinou que o caminho do jovem advogado é árduo, mas o diferencial está na dedicação, no estudo e na coragem de provar que o valor está na qualidade do trabalho, não na idade ou tempo de profissão."
Wesley Silva – OAB/MG
"Sou advogado há dois anos, natural de Uberlândia/MG, e atuo na defesa de pessoas em vulnerabilidade social, 100% no digital, em todo o país. Fui vice-presidente da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/MG, o que fortaleceu minha missão de promover justiça e respeito às diferenças. Um caso marcou minha trajetória: uma ação indenizatória movida por uma influenciadora digital, mãe de um menino que vivencia uma infância livre, sem estereótipos de gênero. Ela sofreu ataques homofóbicos, inclusive de outra mãe influenciadora que, apesar de enfrentar preconceito por sua filha autista, proferiu comentários violentos contra ela, usando justificativas ideológicas e religiosas. Esse caso me desafiou além do jurídico, exigindo compreender o emocional e social envolvidos. Lutar pela reparação era também defender o direito à infância livre e à educação com amor. Refleti sobre como a dor de um grupo oprimido não garante empatia, sendo a exclusão resultado da combinação de vaidade, ego e crenças pessoais. Essa experiência reafirmou que o Direito é instrumento de transformação social e que a advocacia deve ser feita com técnica, compaixão e sensibilidade".
Edpablo Santos OAB/PI
"Minha história na advocacia, apesar de ser e ao mesmo tempo não ser recente, foi de uma relação de ódio para amor. Na realidade de medo para amor. Terminei a graduação, em 2020, bastante desestimulado em seguir com a profissão . Pressão familiar para passar na prova da ordem. Somente em 2023 quando minha família deixou de me pedir pela carteira da OAB, eu silenciosamente decidi fazer a prova. Passei nas duas fases na primeira tentativa. Mas esse gargalo era somente o recomeço dos desafios. Com a OAB em mãos, vieram os desafios de exercer a profissão. Não havia estagiado, não vinha de uma família de advogados, e não morava em minha cidade natal. Networking era uma palavra desconhecida pra mim. Bati em muitas portas e todas estavam fechadas. Teve advogado que marcou entrevista comigo, e ao chegar lá as portas do escritório estavam fechadas sem ninguém para me atender ou dar uma satisfação".