Brasil pode antecipar nova reforma da Previdência diante de mudanças na geração Z
Redação com Estadão
O Brasil pode ser forçado a antecipar uma nova reforma da Previdência Social devido a um cenário de forte desequilíbrio entre arrecadação e despesas. Entre os principais fatores estão o envelhecimento acelerado da população, a transformação nas relações de trabalho com o crescimento dos aplicativos e da informalidade, e o aumento da preferência dos jovens por modelos de trabalho mais flexíveis.
Especialistas alertam que a base de contribuintes formais vem encolhendo, o que compromete a sustentabilidade do atual sistema previdenciário, baseado na contribuição dos trabalhadores ativos para custear os benefícios dos aposentados. Sem uma mudança estrutural, o risco é de colapso do modelo vigente.
“O Brasil terá de ir além de fórmulas tradicionais, como aumentar a idade mínima. Será necessário discutir um sistema de capitalização e ampliar as formas de contribuição, inclusive sobre a renda”, afirma Paulo Tafner, economista e presidente do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social.
O professor José Roberto Afonso, do IDP e da Universidade de Lisboa, também defende uma reforma abrangente, que reestruture a seguridade social como um todo. Para ele, é fundamental repensar o financiamento da Previdência à luz das novas formas de trabalho, como os prestadores de serviço e os profissionais por conta própria, cujos vínculos são mais instáveis e, muitas vezes, sem contribuição regular ao INSS.
A situação fiscal do país agrava o problema. A Previdência responde por quase metade das despesas obrigatórias da União, com projeção de gastos de R$ 1,130 trilhão em 2026. A previsão para 2029 é ainda mais alta: R$ 1,375 trilhão.
O economista Gabriel Leal de Barros, da ARX Investimentos, sugere três medidas emergenciais: rever a regra de ganho real do salário mínimo, realizar um pente-fino nos benefícios e avançar na digitalização para evitar fraudes e sobreposições em programas sociais.
Com o crescimento da informalidade e a evolução da pirâmide etária brasileira, a discussão sobre uma nova reforma previdenciária deve ganhar força nos próximos anos. A última mudança no sistema ocorreu em 2019, mas pode não ser suficiente para manter a Previdência sustentável no longo prazo.