Novo protesto de aposentados deve tomar ruas de Buenos Aires hoje

19 de março de 2025 às 08:33
Mundo

Foto: Reprodução

UOL

O governo Milei vai reforçar o efetivo de segurança para o protesto em apoio aos aposentados, previsto para o fim da tarde de hoje no Congresso Nacional, centro de Buenos Aires. A manifestação foi convocada por diversas organizações sociais, sindicatos e torcidas de organizados de clubes de futebol, como ocorreu na semana passada, com a diferença de um número maior de organizações sociais e sindicatos que confirmaram presença. A polícia de Buenos Aires terá 900 agentes no protesto. A capital também vai retirar 350 cestos do lixo da cidade, para evitar que sejam incendiados.

A marcha será, por um lado, em apoio aos aposentados, e, por outro, em protesto à repressão da manifestação da última quarta-feira que resultou em centenas de pessoas detidas e dezenas de feridos, vitimando gravemente o fotógrafo Paulo Grillo, 35 anos.

Repressão a jornalistas

O Sindicato de Imprensa de Buenos Aires alertou que estará no protesto para defender a imprensa. Com o lema "Chega de repressão ao protesto e a imprensa", o sindicato afirmou que a mobilização será por "aposentadorias dignas e para pedir justiça ao fotógrafo Pablo Grilo", que segue no hospital em situação delicada, depois de ser atingido na cabeça por um projétil de bomba de gás lacrimogêneo.

O governo Milei afirmou que a polícia cumpriu os protocolos previstos, minimizando a denúncia da Associação de Fotógrafos Argentinos (Argra), a qual afirmou, baseado em registros em vídeo do momento do disparo, que o policial teria disparado horizontalmente e não verticalmente, como deveria ser, atingindo em cheio o fotógrafo que registrava a ação da polícia. "Atirou como teria que atirar. A polícia defendeu a cidadania para que possamos viver em paz", disse a ministra da Segurança, Patricia Bullrich.

Casa Rosada se prepara para confronto

O novo protesto foi discutido em uma reunião, ontem, na Casa Rosada. Além de Bullrich, participaram o conselheiro presidencial Santiago Caputo, os secretários de Justiça, Sebastian Amerio, e de transporte, Franco Mogetta e o porta-voz do governo, Manuel Adorni, segundo informou o jornal Clarín. Ao UOL, a assessoria de imprensa da ministra informou que não estava autorizada a falar sobre a reunião na Casa Rosada e nem sobre o protesto.

Em coletiva de imprensa na segunda, a ministra de Milei disse que não recuará de seu objetivo de limitar o protesto previsto para hoje, a fim de, em suas palavras, "proteger os argentinos". Bullrich reforçou que manterá o protocolo anti-protesto.

"As forças de segurança se mantêm de maneira pacífica, enquanto não são atacadas. (...) Os violentos são aqueles que vão a uma marcha se escondendo atrás de uma reivindicação. Não vamos contar o que vamos fazer para o protesto (de hoje). O que sim podemos dizer é que vamos defender a sociedade", afirmou a ministra.

Segundo a imprensa argentina, mais de mil efetivos da Polícia Federal, Gendarmaria, Prefeitura Naval e Polícia de Segurança Aeroportuária estarão prontos a intervir hoje. Além disso, haverá um controle especial da polícia nos transportes públicos, principalmente de ônibus que chegam a cidade de Buenos Aires vindos da região metropolitana.

Clima de tensão e medo

Entre os argentinos que circulam e trabalham nas imediações do Congresso Nacional, o clima é de tensão e medo. Uma médica, que atende na região e não quis ser identificada, disse que cancelou os atendimentos no período da tarde de hoje para evitar que seus pacientes corram perigo de circular pelo centro.

Juan, que trabalha num escritório na avenida Callao, onde está o Palácio Legislativo, não quis se identificar, mas afirmou que irá ao protesto defender os aposentados. "Nos deram folga por causa do protesto. Eu vou à manifestação, defender os aposentados e ao Grillo". Perguntado se não tem medo, diante do forte efetivo policial previsto para esta tarde, disse que não. "Medo e dinheiro, nunca tivemos", afirmou.

Governo apresenta lei anti barras

Um dos argumentos do governo Milei para usar as forças de repressão durante os protestos dos aposentados é que as manifestações não são de um grupo de aposentados, mas de torcedores de futebol conhecidos como Barra Bravas, uma ala específica dos adeptos dos grandes clubes argentinos, com histórico de violência e de envolvimento com o crime organizado.

Na segunda-feira, Bullrich apresentou um projeto de lei que pretende criminalizar as torcidas organizadas de futebol. O projeto pretende defini-las como associações criminosas, com penas de cinco a 25 anos de prisão. Sem dar detalhes, a ministra também afirmou que a lei, apelidada de "anti barra", vai responsabilizar dirigentes de clubes de futebol que colaborarem com as torcidas organizadas.