Com aliança, Brasil barra aposta de Milei e Trump para comandar OEA

06 de março de 2025 às 07:38
Mundo

Foto: Reprodução

UOL

O Brasil, aliado a governos progressistas da região, conseguiu evitar que a OEA (Organização dos Estados Americanos) seja comandada por um aliado dos governos de Javier Milei e de Donald Trump.

A diplomacia brasileira costurou uma aliança com Chile, Colômbia, Uruguai e Bolívia, no fim de semana, e anunciou o apoio ao candidato do Suriname, o chanceler Albert Ramdin, para ocupar o cargo de secretário-geral da entidade. A eleição ocorre no dia 10 de março.

A ofensiva brasileira abriu caminho para que o diplomata recebesse também o apoio de México, Canadá, Equador e outros países. Junto com os votos do Caribe, que ele já havia obtido, sua chapa ficou praticamente imbatível. Seus assessores consideram que ele já teria 28 apoios.

Como resultado, na noite desta quarta-feira, o candidato que havia cortejado a Casa Branca, o chanceler do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, se retirou da corrida. Ele também tinha o apoio da Argentina, assim como de El Salvador.

A constatação é de que, mesmo com um eventual apoio de Washington e do governo de Javier Milei, ele não teria votos suficientes para ser eleito.

OEA: estratégica para ambições de Trump

No final de 2024, Trump recebeu em sua residência em Mar a Lago (Flórida) o chanceler do Paraguai. Oficialmente, o encontro ocorreu para que ambos pudessem dialogar sobre a situação política na América Latina e contextos específicos como Cuba, Nicarágua e Venezuela. Mas a viagem teve outro objetivo: tentar fortalecer a campanha do paraguaio para ser o sucessor de Luis Almagro no comando da OEA.

Trump ainda não declarou abertamente para quem votará. Mas Ramírez Lezcano ainda esteve com o bilionário Elon Musk, personagem que vem ganhando espaço até mesmo na composição da política externa de Trump.

Para atrair o voto dos EUA, o Paraguai se aproximou ao voto americano em outros temas na ONU, além de adotar um discurso similar ao posicionamento da Casa Branca. Isso inclui críticas à ofensiva da China na região, à proteção dos interesses de Taiwan, alertas sobre o Irã e até mesmo sobre a imigração irregular.

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O posicionamento do paraguaio agradava Marco Rubio, chefe da diplomacia de Trump, neto de cubanos exilados e que, ao longo dos anos, vem adotando um tom duro contra as ditaduras latino-americanas.

Ao anunciar o fim da candidatura de seu chanceler, o presidente do Paraguai, Santiago Peña, lançou uma crítica velada ao Brasil.

"A candidatura foi muito bem recebida e apoiada por muitos estados membros da organização. No entanto, nos últimos dias e de forma abrupta e inexplicável, o Paraguai foi informado por países amigos da região, com os quais compartilhamos um espaço e uma história comuns, que eles modificaram seu compromisso inicial com nosso país e decidiram não apoiar a proposta do Paraguai", disse o presidente.

"O Paraguai, ao longo de sua rica história, tem sido um país que sempre baseou suas posições em princípios e valores tão elevados, e não renunciará a eles por causa de uma eleição ou situação particular", afirmou.

"Analisando todos esses elementos, tomei a decisão de retirar a candidatura do Ministro das Relações Exteriores, Rubén Ramírez Lezcano, um diplomata de vasta experiência e de merecido prestígio não apenas regional, mas mundial, para a Secretaria Geral da OEA", completou Peña.

Se a OEA é vista com desconfiança por uma ala importante na América Latina e não é a peça-chave para a estratégia brasileira de integração regional, a visão da Casa Branca é a de instrumentalizar a entidade com sede em Washington para atender a seus interesses no Hemisfério. 60% do orçamento da OEA vem da contribuição americana, e assessores de Trump explicaram ao UOL que querem garantir que esses recursos cumpram a missão de fortalecer sua posição na região.