Eleição no Equador: Presidente Daniel Noboa disputará segundo turno com a candidata da esquerda Luisa González
g1
Com a esquerda superando as expectativas, as eleições presidenciais no Equador serão decididas em um segundo turno, marcado para o dia 13 de abril.
O atual presidente do Equador, Daniel Noboa, era o favorito para vencer o pleito e liderou a pesquisa de boca de urna divulgada no fim da tarde deste domingo (9), poucas horas após o encerramento da votação.
No entanto, à medida que a apuração avançou, Luisa González se aproximou, mantendo uma diferença menor que 1 ponto percentual em relação ao rival. Com mais de 92% dos votos apurados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) equatoriano, órgão que cuida das eleições no país, Noboa tinha 44,3% dos votos válidos e González, 43,8%.
A pequena diferença, de menos de 50 mil votos, entre os candidatos indica uma disputa acirrada no segundo turno. Outros 14 candidatos participaram da eleição, mas não conseguiram votos suficientes para avançar.
Não foram registrados incidentes violentos, pouco mais de um ano após uma das eleições mais violentas no mundo nos últimos anos (leia mais abaixo). Segundo o CNE, o pleito deste domingo ocorreu com normalidade, e com uma participação de 82,3% dos eleitores.
Segundo Maria Cristina Bayas, professora da Universidade das Américas, em Quito, o resultado de domingo foi "um triunfo" para o partido do ex-presidente Rafael Correa —de oposição ao governo Noboa—, porque as pesquisas de intenção de voto previam uma diferença maior entre o atual presidente e Luisa González.
Daniel Noboa, um milionário de 37 anos que assumiu o país em outubro de 2023, votou logo nas primeiras horas após a abertura das urnas no domingo, na cidade de Olon, acompanhado por familiares e cercado por militares armados. Luisa González também votou pela manhã, na cidade de Canuto, também cercada por militares
Violência na eleição anterior
Noboa foi eleito em outubro de 2023, em eleições antecipadas no Equador convocadas pelo ex-presidente Guillermo Lasso em meio a um processo de impeachment. O pleito convocado por Lasso, no entanto, tinha o intuito de completar o seu tempo de mandato até a data original das eleições seguintes, que ocorrem neste domingo.
Mas as eleições temporárias acabaram se tornando um dos processos eleitorais mais violentos dos últimos anos no planeta, diante da ameaça de cartéis de droga que disputam o lucrativo controle do narcotráfico do país aos candidatos.
Um deles, Fernando Villavicencio, morreu assassinado quando saía de um ato de campanha (veja vídeo abaixo). Os demais candidatos fizeram campanha sob forte esquema de segurança e, no dia da votação, tiveram de ir votar com coletes a prova de balas e capacetes.
Embora a campanha desta vez tenha sido mais "limpa", com menos episódios violentos e sem registro de mortes, o combate à criminalidade segue sendo o principal desafio de quem assumir o novo mandato presidencial.
Há cerca de cinco anos, o Equador, que era considerado uma "ilha de paz" na América Latina por conta dos índices de homicídio mais baixos do continente, viu a violência disparar por conta da explosão de crimes ligados a cartéis de drogas, que "migraram" da Colômbia e começaram a ameaçar e matar governantes, promotores e juízes do país.
Isso porque o acordo de paz assinado entre o governo da vizinha Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2016 fulminou os cartéis que chegaram a dominar cidades inteiras do país.
Mas, em vez de ser extinto, o mercado de drogas acabou migrando para regiões no Equador. Lá, narcotraficantes encontraram as brechas que precisavam para seguir operando: uma política de segurança pública pouco especializada no crime que cometem combinada ao fator geográfico.
De cara para o Oceano Pacífico e com mais de 2.200 quilômetros de costa, o Equador acabou se tornando uma das principais rotas do tráfico de drogas da América Latina para os Estados Unidos e a Europa.
Atualmente, cartéis e máfias internacionais rivais disputam território no país por conta da rota lucrativa de narcotráfico do Equador. A taxa de homicídios do país aumentou de 6 a cada 100 mil habitantes em 2018 para 38 a cada 100 mil habitantes em 2024, o que afugentou turistas estrangeiros e os próprios equatorianos.
"Há mortes cruéis, assassinatos, crimes... é uma realidade diária", disse à agência de notícias AFP o vendedor ambulantes Jesús Chávez, que já foi assaltado várias vezes no centro de Quito.