Crise dos deportados: governo Lula baixa tom e busca negociar com EUA

29 de janeiro de 2025 às 07:56
Brasil

Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto

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As condições em que os primeiros brasileiros deportados dos Estados Unidos na era Trump chegaram ao Brasil — algemados e sem alimentação — desagradaram o governo brasileiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), então, se reuniu com ministros para discutir a questão, mas na resposta optou pelo pragmatismo. O tom das críticas aos norte-americanos foi suave e indicou vontade de negociar.

O que está acontecendo:

  • 88 brasileiros deportados dos Estados Unidos chegaram a Manaus (AM) no fim da última semana algemados e acorrentados. Os cidadãos relataram agressões por parte de agentes norte-americanos. Eles seguiram presos após o pouso porque o avião americano teve problema e houve impasse sobre a continuação da viagem até o destino final: Belo Horizonte.
  • O presidente Lula determinou à FAB que um avião resgatasse os deportados e os levasse até Confins (MG), além de exigir a retirada das algemas.
  • Na segunda-feira (27/1), o presidente se reuniu com o chanceler Mauro Vieira para discutir a situação. Mais tarde, o Itamaraty convocou o encarregado de negócios dos EUA, Gabriel Escobar, para pedir explicações sobre a ação do governo americano.

Embora tenha condenado as condições em que os deportados foram transportados, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, descartou o envio de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) para buscar futuros deportados por Trump. “Essa é uma questão do governo americano que tem que mandar os brasileiros”, disse o chanceler em coletiva de imprensa, nessa terça-feira (28/1).

Vieira, entretanto, afirmou que o governo não admitirá o uso de algemas nos deportados no solo do Brasil e disse que há acordos anteriores, de 2018 e 2021, que trataram e regulamentaram parte dessas operações. “Essa operação foi trágica justamente por uma questão de um defeito no avião”, destacou, ao se referir ao voo que chegou a Manaus na última semana e virou problema.

O governo federal também anunciou que vai abrir posto de acolhimento aos brasileiros deportados dos Estados Unidos no Aeroporto Internacional Belo Horizonte (Confins).

A resposta do Itamaraty tenta contornar a situação e não comprometer a relação entre os dois países. Recentemente, a resposta do governo de Donald Trump à reação da Colômbia deu a tônica do que a administração dos EUA está disposta a fazer contra os países que contrariam sua política migratória.

No último fim de semana, o governo colombiano se recusou a receber um avião com cidadãos deportados dos Estados Unidos porque eles chegariam em uma aeronave militar. A negativa, entretanto, abriu crise diplomática e quase colocou as duas nações em uma guerra comercial. O país sul-americano recuou da decisão.

A crise causada pelo endurecimento das políticas anti-imigração de Donald Trump tem sido alvo de preocupação no governo Lula. A decisão do presidente americano de suspender os financiamentos a organismos internacionais impactou o programa de acolhimento aos imigrantes venezuelanos, em Roraima.

A medida levou o governo Lula a determinar, de forma emergencial, a realocação de servidores das áreas de saúde e assistência social, da Polícia Federal e da Defesa, para atuarem no apoio aos imigrantes. Nessa terça, o chefe do Planalto convocou nova reunião com ministros de diversas áreas para discutir as deportações.