Washington se blinda para posse, e EUA veem de atos contra Trump

18 de janeiro de 2025 às 09:09
Mundo

Foto: Reprodução

UOL

Enquanto Donald Trump inicia as festividades de sua posse, neste sábado, e recebe líderes de extrema direita e oligarcas de todo o mundo, comunidades, ativistas, grupos de direitos humanos e a oposição se organizam para realizar centenas de protestos pelos EUA contra as promessas anunciadas pelo republicano e em defesa da democracia.

O aparato de segurança estabelecido em Washington DC será um dos maiores já vistos na capital americana. A expectativa é de que, entre convidados, delegações e manifestantes, a cidade receba quase 200 mil pessoas extras no fim de semana e na segunda-feira. Pelo menos 25 mil agentes estarão de prontidão para a posse de um político que sofreu duas tentativas de assassinato nos últimos seis meses.

Um muro ainda de 48 quilômetros percorre a cidade, no esforço de proteger os prédios públicos e chefes de estado que estarão na capital.

Se não bastasse, o evento ocorre ainda num momento de elevada tensão nos EUA, depois de um ataque terrorista no Ano Novo.

"Estamos em um ambiente de ameaça", disse o agente especial encarregado do Serviço Secreto dos EUA, Matt McCool, em uma coletiva de imprensa na segunda-feira.

O temor principal é de que o ataque em Nova Orleans seja repetido por um "lobo solitário".

"Essa ameaça do ator solitário continua sendo a maior justificativa para estarmos nesse estado de alerta elevado durante a próxima semana", disse o chefe da polícia do Capitólio dos EUA, Thomas Manger.

Ainda assim, os protestos serão realizados. Sob o slogan "não olharemos para trás, olharemos para frente", os organizadores concentrarão as manifestações em Washington, mas ainda prometem atos similares em Nova York, Chicago, San Antonio, Denver, Los Angeles, Seattle e até mesmo no Havaí e capitais europeias.

Mas se o movimento progressista tenta mostrar resistência, parte da operação tem como objetivo reorganizar a mobilização depois da decepção dos resultados das eleições de 2024 e preparar terreno para uma retomada da ofensiva por votos.

Vários dos integrantes dos grupos admitem que há uma exaustão por parte de ativistas, principalmente depois da constatação de que o voto de mulheres e latinos aumentou para o republicano entre 2017 e 2024.

No ano passado, 53% das mulheres brancas votaram por Trump, contra 46% para Kamala Harris. Entre as mulheres negras, o apoio ao republicano se limita a 7%. Entre os homens latinos, pela primeira vez Trump venceu.

Em 2017, a posse de Trump foi seguida pela realização de uma manifestação de grandes proporções de mulheres que lotou a capital dos EUA, com 500 mil pessoas.

Desta vez, a estratégia foi a de ampliar o movimento. O que era a "Marcha das Mulheres" passou a ser chamada de "a Marcha do Povo". Até ontem, mais de 50 mil pessoas tinham confirmado sua participação no protesto em Washington, neste sábado.

A transformação também é uma resposta à derrota de Kamala Harris. O grupo tenta se reconectar com a população mais vulnerável. Para isso, no lugar de um só dia de atos, a ação tem como objetivo começar a reconstruir o movimento de oposição.

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Entre as medidas para ampliar a base está a recomendação para que as manifestantes não saiam às ruas com fantasias de Handmaid's Tale, série que descrevia o fim dos direitos reprodutivos das mulheres. A constatação foi de que a fantasia, ainda que mandasse uma mensagem forte, ignorava o fato de que para mulheres negras e imigrantes, essa foi sempre a realidade.

Agora, a iniciativa é de realizar protestos organizados por uma ampla coalizão formada por entidades de defesa das mulheres, acesso ao aborto legalizado e movimentos negros.

A meta, desta vez, é criar uma aliança entre os diferentes segmentos da sociedade e focar em temas como renda, racismo, violência policial e mesmo clima. "Será um dia de resistência, construção da comunidade e ação poderosa", prometem os organizadores. "Vamos nos unir para lembrar à nação que o poder real está com o povo, e que nossa resistência não será abalada", afirmaram.

Em 2025, as reivindicações do ato incluem:

  • Exigir justiça racial e honrar a liderança das comunidades negras.
  • Defender os direitos das mulheres. A liberdade reprodutiva equivale ao direito de decidir se e quando ter filhos.
  • Lutar por justiça econômica, salários justos e o direito de se aposentar com dignidade.
  • Exigir ações sobre justiça climática e garantir que as gerações futuras tenham ar e água limpos.
  • Defender a liberdade de viver sem medo da violência armada ou da brutalidade policial.
  • Ser solidário com os jovens trans e queer.
  • Garantir que a saúde e a educação sejam direitos de todos, sem preconceitos.

Ainda que os atos não tenham a proporção de 2017, a ideia é a de mostrar que a vitória de Trump não significa que o país inteiro está ao seu lado e que pelo menos 48% dos votos foram para Kamala Harris. A democrata somou 75 milhões de votos, contra 77,3 milhões para o republicano.

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Trump, porém, vem insistindo que a vitória foi avassaladora e que, portanto, isso lhe daria a legitimidade de uma ampla reforma. De fato, seu partido hoje controla o Senado e a Câmara de Deputados.

Ao UOL os organizadores dos atos apontam que uma das metas nos próximos meses é a minar essa narrativa e comparar a outras eleições.

2008 - Barack Obama obteve 69,4 milhões de votos, contra 59,9 milhões de John McCain
2012 - Barack Obama com 65,8 milhões, contra 60,9 milhões de Mitt Romney
2016 - Hillary Clinton somou 65,7 milhões de votos, contra 62,9 milhões de Trump
2020 - Joe Biden teve 81,2 milhões contra 74,2 milhões de Trump

O legado de Martin Luther King Jr

Além dos atos deste sábado, novas manifestações estão sendo previstas para segunda-feira, dia da posse. A data coincide com o dia de Martin Luther King e entidades procuram usar como argumento para mobilizar ativistas e a população.

Sob a bandeira "Lutaremos de volta 2025", mais de 700 protestos, atos, palestras e encontros foram planejados em todo o país.

Em uma declaração por escrito, os organizadores do Fórum do Povo explicaram que, no dia da posse, os manifestantes vão "exigir um futuro que centralize as necessidades do povo em detrimento dos interesses da elite rica". "Com as vozes erguidas em defesa dos direitos dos trabalhadores, dos imigrantes e da justiça ambiental, pediremos o fim do genocídio em Gaza, da máquina de guerra dos EUA e do domínio dos bilionários", indicaram.