Nubank: 'Velocidade de mudança na Argentina tem impressionado todo mundo', diz Vélez
Estadão
O fundador e CEO do Nubank, David Vélez, afirmou nesta quarta-feira, 23, que a Argentina é um país que o Nubank tem olhado para expandir suas operações, especialmente com o governo de Javier Milei. "É impossível ignorar (o que o novo presidente está fazendo)", disse Vélez, citando que a economia argentina é uma das maiores da América Latina.
"Provavelmente vamos precisar entender o que vai acontecer na Argentina nos próximos 12 a 24 meses", disse ele. "Mas acho que a velocidade (com) que a situação na Argentina está mudando tem impressionado todo mundo." Vélez disse que o país vizinho tem um dos maiores níveis de capital na América Latina, forma muitos engenheiros, tem boas universidades e ainda é uma economia sem crédito, e sem um mercado de cartões de crédito.
O banco digital, porém, não tomou decisão de entrar no mercado argentino. "Ainda é cedo para tomar uma decisão", disse Vélez sobre uma possível ida para o país vizinho. Além do Brasil, o Nubank opera no México e na Colômbia.
O Nubank já considerou entrar na Argentina no passado, mas a situação política complicada acabou deixando os planos na gaveta. Perguntado se Milei é a mudança que a Argentina precisa, Vélez disse: "esperamos que sim". "Definitivamente estamos curiosos para ver o que vai acontecer lá."
Vélez afirmou que o México hoje é a principal oportunidade em crescimento do Nubank na América Latina, pois ainda é um país com parte importante da população sem acesso a bancos. Em alguns pontos, está há anos atrás do Brasil.
O México tem o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina, tem renda per capta mais alta que o Brasil, mas apenas tem apenas 12% de penetração de cartão de crédito, comparado a 60% do mercado brasileiro.
Já sobre operar nos Estados Unidos, país que tem ainda população desbancarizada, incluindo imigrantes latinos, Vélez disse que poderia ser uma oportunidade interessante, mas ele ressaltou como ponto negativo a forte regulação.
Presença no Brasil
Vélez disse que o banco já chegou perto de 60% da população como clientes, o equivalente a 100 milhões de pessoas só no País. Mas ainda vê oportunidades para crescer, pois tem participação pequena em determinadas linhas, como crédito e investimentos, e ainda vê chances fora do mundo financeiro, como telefonia.
Em investimentos, por exemplo, o Nubank tem 2% do mercado, em empréstimo pessoal, ao redor de 7%, disse Vélez. "Há ainda um enorme potencial de crescimento", afirmou em evento da Bloomberg. Ao mesmo tempo é crescente a base de clientes que tem o banco digital como principal banco.
Ao chegar a 100 milhões de clientes no Brasil, Vélez reforçou que o Nubank olha para expansão dos negócios em segmentos como alta renda e pequenas empresas, mas também para fora do setor financeiro. Neste momento, foi perguntado se o banco tem interesse em comprar uma operadora de telefonia. O executivo disse que não, mas acha espaço muito interessante.
A fintech está testando o NuCel. O Nubank obteve em abril uma aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para operar como operadora virtual utilizando a rede da Claro. Sobre verticais fora do mundo financeiro, ele citou o marketplace e a venda de passagens aéreas e hotéis.
"Construímos uma das mais sofisticadas estruturas financeiras no mundo", disse ao falar do Nubank, que é avaliado em US$ 70 bilhões na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse).
A avaliação do Citi
O Citi avalia que a fala do fundador e CEO do Nubank, David Vélez, sobre a Argentina ser um país que o banco brasileiro tem olhado para expandir as suas operações, caracteriza uma "oportunidade inegável", mas pondera que a dimensão dos investimentos e a coordenação necessária para promover a digitalização são "impasses" para o lucro.
Em relatório, os analistas Gabriel Gusan e Brian Flores afirmam que a Argentina tem "uma baixa penetração" do crédito após anos de hiperinflação, uma maior fragmentação na quota de mercado dos empréstimos e um LDR muito baixo. Os profissionais acrescentam que as operações de varejo no país vizinho representam aproximadamente 3%, 40% e 23% das operações no Brasil, Colômbia e México, respectivamente.
"No geral, o sentimento é construtivo, mas a maioria dos players reconhece que a transição para o crédito a partir de títulos públicos depende, em geral, do sucesso do plano de estabilização econômica encabeçado por Milei e sua equipe", escreveram no documento.
O Citi mantém a recomendação neutra para os papéis do Nubank e destaca perspectiva "cautelosamente otimista" quanto à possível operação. O banco tem preço-alvo de US$ 14,60 para o papel, um potencial de baixa de 1,02% em relação ao fechamento desta quarta-feir, 23, na Bolsa de Nova York (US$ 14,75). /Com Isabela Mendes