'Caiu tudo, não consegui mais respirar', diz brasileiro sobrevivente de ataque no Líbano que matou seu pai e o irmão

27 de setembro de 2024 às 10:45
Mundo

Foto: Reprodução

g1

O adolescente chegou por volta da meia-noite desta sexta-feira (27) a Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, após deixar o Líbano junto da irmã Yara Abdallah.

Bombardeios israelenses no Líbano se intensificaram nos últimos dias. Só na segunda-feira, quase 500 pessoas morreram e mais de 1.800 mil ficaram feridas nos ataques direcionados ao grupo extremista libanês Hezbollah, financiado pelo Irã e contrário a Israel, no dia mais sangrento desde a guerra do Líbano, em 2006.

Em uma semana de ataques, já são mais de 700 mortos e dezenas de milhares de moradores deixando suas casas e o país.

"Caiu tudo, nem vi mais nada, não consegui mais respirar. Tirei as pedras de mim e fui ver meu pai. [Ele, o pai] estava no chão, morto, e meu irmão... Não conseguia achar meu irmão. Gritava o nome dele, e as pessoas do meu lado, mortas. Eu não achava ele, nem escutei a voz dele", disse.

O pai e o irmão de Mohamed morreram na segunda-feira (23), vítimas de um foguete que atingiu a cidade de Kelya, conforme o Itamaraty. Ali e o irmão Mohamed nasceram em Foz do Iguaçu. O pai deles, Kamal, era libanês com naturalidade paraguaia.

Cerca de 200 pessoas, entre amigos e familiares, receberam Mohamed e Yara no aeroporto. Amigos e colegas de Ali entregaram ao jovem uma camiseta com a mensagem: "Para sempre em nossos corações. Ali Kamal Abdallah".

Conforme apurou a RPC, afiliada da TV Globo, Yara passou mal após o desembarque, foi atendida por socorristas do aeroporto, e depois foi para casa com a família.

Além do adolescente paranaense, os ataques militares de Israel contra o Hezbollah no Líbano fizeram uma segunda vítima brasileira, Myrna Raef Nasser, de 16 anos, que estava com a família no Vale do Bekaa. A morte da adolescente, que foi confirmada pela família no Brasil, ocorreu na mesma região onde morreu Ali.

'Morreram trabalhando na pequena fábrica da família'

Hanan Abdallah, irmã do adolescente, contou à RPC que a família foi para o Líbano trabalhar em uma pequena fábrica familiar de produtos de limpeza.

Segundo Hanan, a família morou por mais de dez anos em Foz do Iguaçu e voltou para o Líbano há cerca de quatro anos, onde tinham uma empresa em Sohmor, cidade vizinha à do bombardeio.

A jovem tem um bebê e está há mais de um ano sem ver a família. Ela voltou ao Brasil após se casar, há cerca de 2 anos.

De acordo com Hanan, o restante da família já tentava voltar ao Brasil. A mãe dela, de 49 anos, esposa da uma das vítimas do bombardeio, chegou a Foz do Iguaçu há cerca de uma semana.