Brasil não vai a ato de EUA contra Maduro; Venezuela discursa em sala vazia

26 de setembro de 2024 às 10:22
Mundo

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em foto de 1º de agosto de 2024 Imagem: B. Rentsendorj/Reuters

UOL

O governo brasileiro não aderiu a um evento em Nova York, nesta quinta-feira, para denunciar as violações do regime de Nicolás Maduro, na Venezuela. Organizado pelos EUA e Argentina, o objetivo do encontro é o de reunir o maior número de países possível para colocar pressão sobre os venezuelanos.

Tanto o chanceler Mauro Vieira como o assessor da presidência, Celso Amorim, estão em Nova York, para reuniões na ONU. Mas a opção do Brasil foi por não se unir ao grupo. O governo julgou que a iniciativa poderia minar suas possibilidades de manter canais abertos com o governo Maduro para buscar soluções para a crise.

A crise na Venezuela, porém, ficou de fora do discurso de Lula no púlpito da ONU. Fontes em Brasília confirmaram ao UOL que, em versões preliminares, o tema havia sido incluído. Mas houve uma decisão política de não fazer referência ao impasse em Caracas.

Momentos depois, o presidente americano Joe Biden criticou Nicolas Maduro ao subir ao palco após o brasileiro. Para uma ala dentro do Itamaraty, a Venezuela foi "a grande ausente do discurso". Em versões anteriores da fala de Lula, a crise no país era citada, mas sem uma condenação ao presidente Maduro. A orientação era para que não houvesse, no discurso, nada que justificasse uma ruptura da possibilidade de diálogo.

Venezuela discursa em sala vazia da ONU

Horas antes, o chanceler da Venezuela, Yvan Gil, discursou na Assembleia Geral da ONU em uma sala quase às moscas. Na fala, amplamente divulgada na Venezuela, ele garantiu que a eleição de julho foi "transparente".

"O povo venezuelano se expressou de forma consciente, pacífica e massiva para eleger com plenas garantias, transparência e liberdade o Chefe de Estado e de Governo da Venezuela para o período 2025-2031", disse.

"O presidente Nicolás Maduro foi reeleito, com apoio claro e esmagador", disse Gil. Segundo ele, foi a oposição que gerou 'violência criminosa que resultou em 27 mortes, centenas de feridos e destruição de patrimônio público e privado'.

Na ONU, as investigações denunciam uma repressão "sem precedentes" por parte do governo Maduro.

Durante a semana, a questão venezuelana esteve presente nas reuniões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, às margens da Assembleia Geral da ONU.

Conforme o UOL apurou, a situação de Nicolás Maduro esteve sobre a mesa da conversa entre os presidentes Emmanuel Macron e Lula, na última terça-feira em Nova York.

O francês pediu que Lula fizesse uma avaliação da situação em Caracas e sobre quais poderiam ser os próximos passos no país.

O Brasil insiste sobre a necessidade de que os esforços sejam mantidos para encontrar um espaço para o diálogo com o governo Maduro e com a oposição, mesmo com o exílio do candidato da oposição, Edmundo González, e o aumento da repressão denunciada pela ONU.
Macron, de seu lado, admitiu a surpresa diante da decisão do opositor de deixar a Venezuela e sinalizou que a Europa está trabalhando para tentar entender como lidar com esse novo cenário.

Mas Lula também foi cobrado. Numa reunião organizada pelo Brasil para iniciar uma reação contra a extrema direita, Gabriel Boric, presidente do Chile, cobrou dos movimentos progressistas coerência ao lidar com as violações de direitos humanos quando ocorrem por regimes de esquerda.

"As forças progressistas se veem fragilizadas quando titubeiam", alertou, sinalizando que apoios ou condenações dependem das "cores políticas ou princípios".