Julian Assange: o que se sabe de acordo com os EUA que livrou fundador do WiKileaks da prisão

25 de junho de 2024 às 09:37
Mundo

ulian Assange foi fotografado em avião a caminho de Bangkok, após deixar a prisão no Reino Unido

O ativista Julian Assange, fundador do site WikiLeaks, deixou a prisão no Reino Unido na noite de segunda-feira (24/6) após fazer um acordo com a Justiça dos Estados Unidos — ele concordou em se declarar culpado de uma acusação de espionagem em troca da liberdade.

Assange, de 52 anos, foi acusado de conspiração para obter e divulgar informações de defesa nacional, depois que o site Wikileaks publicou arquivos militares americanos considerados secretos.

Ele passou os últimos cinco anos em uma prisão britânica, de onde lutava contra a extradição para os Estados Unidos.

O avião de Assange, que deixou Londres na segunda-feira, pousou em Bangkok, capital da Tailândia, na manhã desta terça (25/6) para reabastecer, antes de seguir com destino às Ilhas Marianas do Norte, um território dos EUA no Pacífico, onde o acordo judicial vai ser finalizado.

A expectativa é de que Assange compareça nesta quarta-feira (26/6) perante um juiz em Saipan, capital das Ilhas Marianas do Norte, onde vai se declarar culpado de uma acusação relacionada com a Lei de Espionagem.

Pelos termos do acordo, o ativista não ficaria em nenhum momento sob custódia americana, e não teria que cumprir pena de prisão porque o Departamento de Justiça dos EUA vai levar em consideração o tempo que ele já cumpriu no Reino Unido.

Se tudo correr conforme planejado, Assange vai voltar então à Austrália , seu país natal, onde sua esposa e filhos aguardam sua chegada.

De acordo com a Justiça britânica, o acordo do ativista com os Estados Unidos foi assinado há seis dias. Ele foi liberado sob fiança para viajar até o "Tribunal Distrital dos EUA em Saipan, nos termos de um acordo de confissão assinado pelas partes em 19 de junho de 2024", informa um comunicado do Tribunal Superior de Justiça.

O documento diz ainda que o acordo prevê a "confissão de culpa de uma das acusações, com uma proposta de sentença de pena já cumprida."

"Está previsto que a declaração de culpa seja apresentada e aceita nesta quarta-feira, 26 de junho de 2024, após a qual os Estados Unidos se comprometeram a retirar o pedido de extradição", acrescenta o texto.

A mulher do ativista, Stella Assange, disse à BBC que está "exultante", mas que o acordo, muitas vezes, pareceu "incerto".

"Até as últimas 24 horas, não tínhamos certeza se isso estava realmente acontecendo", diz ela.

Ela compartilhou os detalhes do voo do marido nas redes sociais — pedindo às pessoas que monitorem de perto o trajeto da Tailândia até as Ilhas Marianas do Norte.

"Precisamos que todos estejam de olho no voo, caso algo dê errado", afirmou.

À BBC, ela enfatizou que não poderia dizer muita coisa antes de o marido comparecer perante o tribunal nas Ilhas Marianas do Norte, já que "só quando o juiz aprovar, vai ser oficialmente real".

"O acordo em si vai se tornar público, e acho que é um acordo muito interessante", ela afirmou.

Segundo ela, Assange será um "homem livre" assim que o acordo for aprovado.

"O importante aqui é que o acordo envolveu o tempo de pena cumprido na prisão — se ele assinasse, poderia sair em liberdade. Ele será um homem livre assim que o acordo for aprovado pelo juiz, e isso vai acontecer amanhã (quarta-feira)."

Já o ex-vice-presidente dos EUA, Mike Pence, criticou fortemente o acordo fechado com Assange, classificando como um "erro judicial".

Na opinião dele, o ativista deveria ter "sido processado até a última instância".

Em uma postagem no X (antigo Twitter), ele afirmou: "Não deveria haver acordos judiciais para evitar a prisão de alguém que coloca em risco a... segurança nacional dos Estados Unidos. Nunca."

Quem é Julian Assange

Assange ganhou reputação na Austrália como programador quando era adolescente.

Em 1995, ele foi multado por crimes cibernéticos em um tribunal da Austrália, e só evitou a pena de prisão porque prometeu não cometer a infrações novamente.

Em 2006, Assange fundou o WikiLeaks. O projeto afirma ter publicado mais de dez milhões de documentos, incluindo muitos relatórios oficiais confidenciais relacionados a guerras, espionagem e corrupção.

Em 2010, o WikiLeaks divulgou um vídeo de um helicóptero militar dos EUA que mostrava 18 civis sendo mortos na capital do Iraque, Bagdá.

Também publicou milhares de documentos confidenciais fornecidos Chelsea Manning, ex-analista de inteligência do Exército dos EUA.

Esses arquivos indicavam que os militares dos EUA tinham matado centenas de civis em incidentes não relatados oficialmente durante a guerra no Afeganistão.

Como o governo dos EUA reagiu ao WikiLeaks?

Em 2019, o Departamento de Justiça dos EUA descreveu os vazamentos do WikiLeaks como "um dos maiores vazamentos de informações confidenciais na história dos Estados Unidos".

Os advogados das autoridades americanas afirmaram que a publicação da informação colocou indivíduos identificados no Afeganistão e no Iraque em "risco de danos graves, tortura ou mesmo morte".

Assange insistiu que os arquivos expunham abusos graves por parte das forças armadas dos EUA e que o processo contra ele tinha motivação política.

Ele foi acusado por 18 crimes, como conspirar para invadir bancos de dados militares com o objetivo de conseguir informações confidenciais.

As autoridades dos EUA iniciaram um processo de extradição para levar Assange ao país.

Se for condenado, seus advogados dizem que ele pode pegar até 175 anos de prisão. No entanto, o governo dos EUA afirma que uma sentença entre quatro e seis anos é mais provável.

Por que Assange não foi enviado aos EUA?

O pedido de extradição dos EUA é de 2019, e foi concedido após uma série de audiências judiciais, mas Assange passou vários anos lutando para anular a decisão.

Ele foi enviado para a prisão de alta segurança de Belmarsh, em Londres, em 2019, e lá foi mantido até agora enquanto o caso de extradição dos EUA avançava na Justiça.

Em 2021, o Tribunal Superior da Inglaterra decidiu que ele deveria ser extraditado, rejeitando as alegações de que a sua saúde mental precária significava que ele poderia se suicidar em uma prisão dos EUA.

Em 2022, o tribunal manteve essa decisão, e a então secretária do Interior, Priti Patel, confirmou a ordem de extradição.

Em fevereiro deste ano, o Tribunal Superior validou o pedido de extradição.

Por que Assange morava na embaixada do Equador?

As autoridades suecas emitiram um mandado de prisão contra Assange em 2010, acusando o ativista de abusar sexualmente de uma mulher e de molestar outra enquanto estava no país.

Ele negou os crimes, afirmando que as acusações eram "infundadas".

A Suécia também pediu ao Reino Unido a extradição de Assange, que foi detido preventivamente sob fiança.

Seguiram-se dois anos de batalhas legais, mas em 2012, o Supremo Tribunal do Reino Unido decidiu que ele deveria ser extraditado para a Suécia para interrogatório.

No entanto, ele procurou asilo político na embaixada do Equador. A concessão foi concedida pelo então presidente do país, Rafael Correa, que apoiava o Wikileaks.

Assange passou sete anos na embaixada e era regularmente visitado por celebridades, incluindo a cantora Lady Gaga e a atriz Pamela Anderson.

Em abril de 2019, o então novo presidente do Equador, Lenin Moreno, ordenou que Assange deixasse a embaixada devido ao seu "comportamento descortês e agressivo", reclamações sobre a sua higiene pessoal e suspeitas de que estava acessando documentos de segurança da embaixada.

Assange foi detido dentro da embaixada pela polícia britânica e depois julgado por não se submeter aos tribunais para ser extraditado para a Suécia, o que constituiu uma violação das condições da sua fiança.

Ele foi condenado a 50 semanas de prisão.

Em novembro de 2019, as autoridades suecas desistiram do processo contra Assange porque os supostos crimes teriam prescrito.