RS: prejuízo estimado de R$ 10 bi, comércio só volta pleno no fim do ano

27 de maio de 2024 às 10:04
Brasil

Imagem: Matheus Piccini/Estadão Conteúdo

"É muito triste ver a destruição de um patrimônio que levou uma vida inteira para ser erguido", lamenta Delamor Sader D'Ávila Filho, diretor das Livrarias Cameron. A rede tem dez lojas instaladas em Porto Alegre (RS), três delas no Aeroporto Salgado Filho, além de um centro de distribuição e dois depósitos. Agora, a tragédia que devastou o Rio Grande do Sul é mais uma página as ser rasgada no setor que atravessa por inúmeros problemas nos últimos anos. A previsão de retomada da rede à normalidade é apenas em setembro.

Nunca, nem no planejamento mais distante, poderíamos levar em conta que precisaria elevar os produtos acima de 1 metro. A água subiu a 1,5 metro. Funcionário nenhum está treinado para elevar as mercadorias a essa altura.

Delamor Sader D'Ávila Filho, diretor das Livrarias Cameron

O retorno das atividades só deve ocorrer após setembro. Para lojas situadas no aeroporto, a reabertura vai depender da volta de pousos e decolagens no local. Com as pistas ainda alagadas, diferentes motivações são vistas como determinantes.

Tenho muito medo de que o aeroporto demore muito para voltar ao normal, porque o Executivo vai fechar menos negócios e o turista de fora que vem para Gramado vai pensar um pouco mais, porque a cidade virou zona de deslizamento.

Delamor Sader D'Ávila Filho, diretor das Livrarias Cameron

Segmento de livros e papelaria é de extrema sensibilidade às enchentes. Diante da tragédia, o setor não consegue estimar o tamanho do prejuízo. A atividade amarga também com a perda de móveis, veículos e equipamentos eletrônicos.

Qualquer livro afetado pela água é muito difícil recuperar, tem relatos de que livros só por estarem no ambiente alagado por 10 ou mais dias ficam afetados com a grande umidade.

Maximiliano Ledur, presidente da Câmara Rio-grandense do Livro

Mesmo sem a invasão da água, os shoppings sofrem com o problema da acessibilidade. D'Ávila Filho relata que as enchentes ainda dificultam o acesso aos centros de comércio e resulta em um impacto direto no faturamento.

Comércio

O drama vivido por D'Ávila Filho é o mesmo enfrentado pelo comércio gaúcho. A Federação Varejista do Rio Grande do Sul estima que os prejuízos do setor até o momento giram em torno de R$ 10 bilhões. O valor leva em conta as perdas de materiais e estoques devido à devastação.

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Expectativa é de que a volta à normalidade do setor na região só aconteça apenas no fim do ano. A entidade que representa os varejistas do estado prevê que o funcionamento do comércio deve começar do interior para a capital. Diante da situação atual, as lojas devem levar ao menos um mês para operar novamente.

A capital será o último lugar que vai ter sua reconstrução, porque a grande maioria das estradas comprometidas vêm do interior até a capital. Para o varejo voltar a girar, a gente pode contar entre 30 e 45 dias. Isso vai acontecer no mesmo tempo em todas as regiões, porque o interior tem um giro de capital muito menor.

Ivonei Pioner, presidente da Federação Varejista do Rio Grande do Sul

O prazo de reconstrução das cidades é visto como determinante para limitar o prejuízo. Com a atividade econômica estagnada, o setor varejista teme pela demora da reconstrução das rodovias federais e estaduais. A circulação pelas vias destruídas é considerada crucial para comércio da região.

Existe uma preocupação em buscar mobiliário e infraestrutura e computadores para as lojas reabrirem, porque alguns empresários ainda têm dúvida sobre a volta. É necessário solucionar a questão das estradas para existir uma logística para entregar as mercadorias nos locais mais afetados e possibilitar a reabertura.

Ivonei Pioner, presidente da Federação Varejista do Rio Grande do Sul

Restaurantes

Um terço dos bares e restaurantes ainda não reabriu após o desastre natural. Segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), 65% dos estabelecimentos gaúchos conseguiram retomar suas atividades. Ainda assim, mais da metade dos locais (55%) enfrenta problemas com fornecimento de água e 33% não têm energia elétrica.