Ainda acreditam que é fake News a situação na Ilha do Marajó?

26 de fevereiro de 2024 às 10:09
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Foto: reprodução

Por Fabíola Aguiar

Sim, caros leitores! Essa é a resposta. Querem nos fazer acreditar nisso. Por mais incrível que pareça.

O caso tomou corpo e tem chamado novamente a atenção desde que a cantora Aymeê apresentou uma música com uma letra bem forte. Num dos trechos ela diz” "Enquanto isso no Marajó, o João desapareceu esperando os ceifeiros da grande seara".

Ao final da sua apresentação, os jurados fizeram perguntas e a cantora respondeu com a propriedade de quem vivencia o problema em sua terra natal:

"Marajó é uma ilha há alguns minutos de Belém, minha terra. E lá, as crianças, lá tem muito tráfico de órgãos, lá é normal. Lá tem pedofilia em nível "hard" e as crianças com 5 anos, quando ela vêem um barco vindo de fora com turistas, Marajó é muito turística e as famílias lá são muito carentes, as criancinhas saem em uma canoa, 6,7 anos, e elas se prostituem dentro do barco por cinco reais". 

O fato é que essa fala da cantora viralizou trazendo à tona um problema já denunciado anos atrás. Uma das principais investigações foi feita depois do depoimento de Dom José Azcona, bispo da região. Na época o Senado iniciou uma Comissão Parlamentar de Inquérito-CPI, para investigar a questão devido a gravidade dos fatos. Trabalho esse, que foi concluído em 2010, apenas com a realização de um relatório.

Um servidor público foi enviado à ilha para coletar provas. E depois dessa viagem foi elaborado um relatório que dizia o seguinte: "O Vereador 'BOB TERRA' (PT) trancou o cadeado da grade da porta do quarto e também trancou a porta do quarto à chave, forçando-a [garota de 13 anos de idade] a manter relação sexual".

Bob Terra é o apelido do vereador Roberto Alan de Souza Costa, do Partido dos Trabalhadores (PT). Ele foi condenado pelo crime de estupro de vulnerável. Durante a CPI, os parlamentares mencionaram outro caso. O do ex-deputado Luiz Afonso Sefer (DEM). Luiz também foi condenado por abusar de uma criança de 9 anos. Ele adotou a garota e a manteve em sua casa até os 13 anos, abusando-a durante esse tempo. 

RESULTADO - A CPI do Senado afirmou que os casos de exploração sexual nas embarcações eram frequentes, e deu destaque aos crimes cometidos nas balsas e navios de transporte de cargas para a cidade de Manaus. Traçando inclusive uma rota que passava pelos municípios de Portel, Muaná, Breves, Curralinho, São Sebastião da Boa Vista e Gurupá, na região do Marajó.

Já em 2019, ao assumir o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, hoje senadora (REPUBLICANOS), recebeu uma série de denúncias sobre os casos de pedofilia na Ilha do Marajó. E ao expor esses casos, a então ministra do governo Bolsonaro foi zombada na internet. Inclusive, o Ministério Público Federal chegou a acusar Damares de espalhar fake news. 

"O Marajó pede socorro e não é de hoje. Que dessa vez as pessoas sejam verdadeiramente compelidas a agir ao ouvir o choro silencioso das crianças. 

Quando virei ministra de Direitos Humanos coloquei como missão acabar com aquilo tudo. E estive lá dezenas de vezes para ouvir o povo e entender o que acontecia ali. Todo mundo culpava a pobreza e a distância das instituições de Estado. 

Nossa resposta foi criar um programa, o Abrace o Marajó, para unir governos e a sociedade civil para a melhoria do IDH da região".

Anos mais tarde, em 2022, ao participar de uma entrevista ao Flow Podcast, Lula tentou desacreditar as denúncias feitas por Damares. “É uma coisa tão absurda que na minha cabeça não passa a ideia de que alguém pode falar uma coisa daquela, não é possível”, afirmou o ex-detento.

Com a exposição da situação feita pela cantora Aymeê e as falas de Damares sobre o caso alcançaram o trending topics no Twitter na última dia (23/02). 

Vale informar que o governo Lula, acabou com o projeto Abrace o Marajó na região. E para tentar abafar o caso, soltou essa semana uma nota por meio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania: 

"A realidade de exploração sexual na região sabe-se preocupante e histórica, mas não autoriza sua utilização de forma irresponsável e descontextualizada. Isso apenas serve ao estigma das populações e ao agravamento de riscos sociais. 

As vivências das populações tradicionais do Marajó não podem ser reduzidas à exploração sexual, já que é uma população diversa, potente em termos socioambientais e que necessita sobretudo de políticas públicas estruturantes e eficientes, com a inversão da lógica assistencialista e alienante de sua realidade e modos de vida", diz o Ministério.

O governo concluiu a nota afirmando que já desenvolveu projetos para cuidar da população da Ilha do Marajó.

Mas, o que temos visto de fato, não condiz com esse discurso. Será que vamos ver algo parecido com o que acontece com os yanomamis que foram abandonados pelo atual governo?