Relatório revela que cinco pessoas morrem a cada dia tentando entrar na Espanha pelo mar

08 de julho de 2023 às 08:18
Direitos Humanos

Foto: EFE/ BRAIS LORENZO

Ao menos 951 pessoas morreram tentando entrar na Espanha pelo mar, como migrantes ou deslocados, somente no primeiro semestre deste ano, média de aproximadamente 5 mortes por dia. Entre as vítimas estão 49 crianças e 112 mulheres, segundo relatório publicado na quinta-feira (6) pela ONG espanhola Caminando Fronteras.

O coletivo lista quatro rotas preferenciais usadas para ingressar na Espanha. A mais mortífera é a Rota das Canárias, onde morreram 778 pessoas em 28 incidentes. A Rota da Argélia, por sua vez, teve oito eventos e 102 mortes, enquanto a Rota do Estreito teve 11 incidentes e 50 mortes. Por fim, a Rota de Alborán teve dois episódios que mataram 21 pessoas.

“Entre as causas que provocaram tragédias e vítimas neste período, destacam-se a omissão do dever de socorro, a demora no acionamento dos meios de busca e salvamento, a insuficiência dos meios quando são acionados, as más práticas durante os resgates e a falta de coordenação entre os Estados espanhol e marroquino, cujas relações são regidas por interesses geopolíticos ligados ao controle migratório e não pela defesa do direito à vida”, diz o relatório. Além da falta de socorro aos migrantes e deslocados em perigo, a ONG destaca também os abusos das autoridades contra aqueles que conseguem entrar na Espanha e mesmo contra familiares dos mortos. São casos de detenções forçadas, negação ao direito de procurar pelos desaparecidos no mar, corpos enterrados em valas comuns, enterros que não respeitam as crenças religiosas das vítimas e falta de um protocolo eficiente para identificação dos corpos.

“Políticas de morte estão instaladas na fronteira há muito tempo. Mas também detectamos um aumento da impunidade diante do aumento das taxas de mortalidade, que deixa as vítimas e suas famílias sem acesso à reparação e à justiça”, disse Helena Maleno Garzón, coordenadora da Caminando Fronteras.

Uma testemunha relatou à ONG o descaso com as vítimas e os abusos contra os sobreviventes por parte das autoridades marroquinas. “Passamos horas esperando, implorando, ligamos para todos os lugares, para o salvamento, para a marinha marroquina, mandamos posições, mas ninguém veio”, contou. “As crianças choravam muito, não tínhamos água. Eu as vi morrerem na minha frente. Caíram no mar, e quando o resgate chegou já era tarde.”

Fonte: Site A Referência (www.areferencia.com)