Taleban proíbe o funcionamento de salões de beleza femininos no Afeganistão
O governo talibã tem na repressão de gênero uma de suas mais autoritárias marcas. A medida mais recente nesse sentido foi uma ordem para o fechamento dos salões de cabeleireiro e estabelecimentos de beleza femininos no Afeganistão, resultando em mais restrições para as mulheres no país. As informações são da agência Associated Press.
De acordo com o porta-voz do Ministério do Vício e da Virtude, Mohammad Sidik Akif Mahajar, as empresas têm um prazo de um mês para cumprir a ordem, a partir de 2 de julho, quando foram notificadas sobre a mudança.
O órgão governamental emitiu uma carta em 24 de junho transmitindo uma ordem verbal do principal líder do Taleban, Hibatullah Akhundzada. A proibição abrange a cidade de Cabul e todas as províncias, exigindo que os salões de todo o país encerrem suas operações com um aviso prévio de um mês. Após esse período, os salões devem fechar e apresentar um relatório de encerramento. A carta não fornece razões para a proibição. No Afeganistão, desde a tomada do poder central pela organização extremista, mulheres não podem estudar, trabalhar nem sair de casa desacompanhadas de um homem. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas inclusive contribui para o empobrecimento da população afegã.
Raihan Mubariz, um maquiador, expressou sua preocupação à rede afegã Tolo News. “Com os homens desempregados, as mulheres são forçadas a trabalhar em salões de beleza para sustentar suas famílias. Se esses salões forem proibidos, o que podemos fazer?”, questionou.
Outra maquiadora também compartilhou sua perspectiva. “Se os homens da família tiverem empregos, não precisaremos sair de casa. Mas o que devemos fazer? Devemos morrer de fome? É isso que você quer?”.
Na terça-feira, a ONU (Organização das Nações Unidas), manifestou seu envolvimento com as autoridades afegãs na tentativa de reverter a proibição dos salões de beleza. A missão da ONU no Afeganistão, conhecida como Unama, utilizou o Twitter para fazer um apelo direto ao Taleban, solicitando a revogação do decreto.
A mensagem enfatizou o impacto negativo dessa nova restrição aos direitos das mulheres: “Essa nova restrição aos direitos das mulheres terá um impacto negativo na economia e contradiz o apoio declarado ao empreendedorismo feminino”, afirmou.
A ONU ressaltou a importância econômica dessa atividade e o potencial empreendedor das mulheres, destacando a contradição existente.
Embora tenha prometido moderação no início, o Taleban se mostrou mais engajado em enterrar qualquer resquício de progresso democrático, e a misoginia é parte desse processo. Com o esvaziamento em agosto de 2021 da base militar de Bagram, que durante vinte anos foi o centro do poder militar dos EUA e seus aliados no Oriente Médio, os talibãs impuseram o terror e a repressão decorrentes de uma abordagem radical da lei islâmica, a ‘Sharia’.
No último dia 25, Akhundzada, emitiu uma mensagem totalmente desconectada da realidade, na qual ressalta as iniciativas de seu governo para melhorar a situação das mulheres no Afeganistão. Ele classificou a rotina das afegãs como “confortável e próspera”.
Fonte: Site A Referência (www.areferencia.com)