Merendeiros falam da importância da participação masculina nas cozinhas da rede pública de ensino de Maceió
É a primeira vez que o merendeiro da rede pública de ensino de Maceió, Carlos Eduardo Silva, participa da formação prática do Concurso de Merendeiras. Carlos passou no concurso público de 2017, da Secretaria Municipal de Educação (Semed), e atualmente trabalha na Escola Municipal Manoel Pedro dos Santos, localizada no bairro Santos Dumont. De lá para cá, o servidor vem quebrando barreiras do preconceito, já que a profissão ainda é vista como essencialmente feminina.
A paixão pela cozinha está em Carlos desde a infância, sempre observando de perto a mãe preparar o almoço para a família. Antes de se enveredar para os caminhos da culinária, o merendeiro estudava para a área da segurança pública. O gosto pelo preparo de alimentos ficou evidente assim que ele ingressou no serviço público como merendeiro.
“Observar minha mãe preparando o almoço com todo o cuidado me inspirou de alguma forma hoje em dia. Quando comecei na rede de ensino, tinham pessoas que questionavam se eu cozinhava já antes ou se eu já fazia curso. Por eu ser homem em uma cozinha cheia de mulheres, achavam que eu não estava ‘pronto’ para o ramo”, contou.
Carlos tem 35 anos e mora no município de Rio Largo com a esposa. Todos os dias, ele acorda junto ao nascer do sol e pega o transporte público, normalmente lotado de trabalhadores, para chegar na escola. Às 7h, Carlos já começa a preparar o ambiente de trabalho, se veste com roupas apropriadas para a cozinha e faz o processo de higienização, tudo de forma cautelosa e segura.
Após esse procedimento, as crianças recebem o dejejum, que geralmente é feito com alguma fruta ou outro alimento nutritivo. Às 9h, hora do intervalo, a refeição já está pronta para ser servida aos estudantes. Terminando o intervalo, ele e mais três profissionais organizam tudo para o dia seguinte. Carlos fica na unidade das 7h às 13h.
“Gosto do que faço. Para mim é muito satisfatório preparar e servir, e ver as crianças comendo. A gratificação não é nem o que vem no final do mês, mas sim os elogios que as crianças falam depois que comem a comida que eu fiz”, revelou Carlos Eduardo.
Para ele, é importante a diversidade de gênero na cozinha profissional, especialmente na alimentação escolar. “Como a gente vê um homem na cozinha fica até meio estranho, uma certa novidade. Eu mesmo quando cheguei aqui, me olharam meio estranho. E realmente é uma quebra de tabu. Acho importante a participação masculina nessa e em outras áreas. Acho legal e interessante essa diversidade, tanto a participação feminina quanto a masculina”, concluiu.
Paixão pela cozinha
Filho mais velho e com uma maior responsabilidade desde cedo, Ascânio Amaral, de 37 anos, teve que aprender e fazer sozinho as atividades domésticas e cuidar dos irmãos, já que seus pais sempre trabalharam fora de casa. Foi a partir deste período que surgiu a paixão por cozinhar e que ainda o inspira hoje em dia.
Ascânio mora no bairro Antares, mesmo local onde ele trabalha como merendeiro, há quase um ano, na Escola Municipal Nise da Silveira. “Fico no período dos alunos da Educação de Jovens, Adultos e Idosos. Adoro a interação com eles, transmitimos tudo o que aprendemos de tabela nutricional e os benefícios daquela alimentação na saúde e no dia a dia deles. Compartilhamos momentos e trocamos experiências”, ressaltou.
O merendeiro também relatou que é formado em administração e que, além de merendeiro, trabalha como administrador de saúde, em um hospital. Desde sempre, ele já cozinhava, mas parou depois que ingressou na universidade.
“Sempre fazendo refeições para minha manutenção diária e para receber amigos e familiares. Essa paixão pela cozinha surgiu, primeiro, pela necessidade e foi aprimorando com o conhecimento e a curiosidade de misturar sabores, além da vontade de se alimentar de maneira saudável”, destacou.
Em diversos momentos algumas pessoas já acharam estranho quando Ascânio disse que era merendeiro. Mas segundo ele, sua vida já é resolvida com boas decisões e escolhas. “Não me deixo influenciar, prefiro provar que sou capaz de desenvolver a atividade independente do gênero", frisou.
Questionado sobre a quebra de paradigmas sendo uma pessoa do gênero masculino em uma cozinha, Ascânio foi assertivo. “A mistura de homens e mulheres no ambiente na cozinha tem dado muito certo, pois quando há respeito e reciprocidade é possível fazer um ótimo trabalho. Algumas pessoas questionam a habilidade de um homem fazer uma refeição saborosa, mas já começaram a entender que é possível a cada refeição que produzimos. Adoro aprender e me desafiar e este é o primeiro concurso de outros que farei para melhorar a qualidade de vida”, afirmou ele, destacando também sua primeira participação no Concurso de Merendeiras.
‘Não importa o gênero, apenas que tenha o amor e a vontade de cozinhar’
Os cozinheiros citados na matéria são alguns dos 102 merendeiros do gênero masculino, efetivos, lotados em creches e escolas municipais da capital. Segundo o setor de lotação da Semed, há um total de 669 merendeiros e merendeiras na rede de ensino. Deste total, 567 profissionais são do gênero feminino.
De acordo com Marcos Sampaio, nutricionista da Semed e técnico da coordenação de nutrição e alimentação escolar, não há distinção entre homens e mulheres na merenda escolar da rede de ensino municipal, e que o importa é a paixão por cozinhar.
“Para a gente não tem distinção, o importante mesmo é que todos tenham a vontade trabalhar e desenvolver todas as atividades que dizem respeito à fabricação e formulação do nosso cardápio escolar. Não importa o gênero, apenas que tenha o amor e a vontade de cozinhar, dando sua contribuição”, disse o técnico.
Fonte: Ascom Semed