Investigação aponta que seja ‘altamente provável´ que Moscou tenha explodido barragem
O advogado Yousuf Syed Khan, membro da Global Rights Compliance, disse que há uma chance de “80% ou mais” de que Moscou tenha de fato causado a explosão. A conclusão, diz ele, se baseia “não apenas em sensores sísmicos e em um dos principais provedores de inteligência de código aberto, mas também em padrões de ataque e outros ataques que documentamos”. Refere-se, no caso, aos ataques frequentes da forças russas à infraestrutura essencial ucraniana, como reservatórios de água e oleodutos.
Se confirmada a autoria, Khan disse que a destruição da barragem poderia constituir um crime de fome, vez que comprometeu “um objeto indispensável para a sobrevivência da população civil” de Kherson. Em um primeiro momento, ainda não é possível falar em crime contra a humanidade, embora essa alternativa esteja sendo considerada.
Na semana passada, a agência Reuters revelou as primeiras evidências de que uma explosão provocou o desastre, embora na ocasião não tenha atribuído a culpa a Moscou. Baseou tal alegação em relatórios dos serviços de inteligência da Ucrânia e dos EUA e em dados sísmicos coletados pela Noruega.
Em outubro de 2022, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky alertou que a Rússia planejava explodir a barragem e projetou um “desastre de grande escala”. Ele acusou Moscou de plantar explosivos em Kakhovka com o objetivo de posteriormente responsabilizar Kiev pelas mortes e pelo desastre ecológico proveniente da inundação.
Perigo nuclear
A barragem Kakhovka, que possui 30 metros de altura e 3,2 quilômetros de comprimento, faz parte de uma usina hidrelétrica e retém um grande reservatório no rio Dnipro. Durante os 15 meses de invasão russa na Ucrânia, essa represa tem sido uma fonte constante de tensão.
O colapso da barragem, no dia 6 de junho, levou a uma troca de acusações entre os governos russo e ucraniano, que se eximem de responsabilidade pelo ocorrido e culpam o outro lado. Já a inundação que resultou do rompimento gerou consequências ambientais e sociais. Casas e empresas foram inundadas à medida que a água fluía rio abaixo, levando à evacuação de milhares de habitantes de áreas afetadas.
Além disso, foi iniciado o monitoramento do nível da água nos sistemas de resfriamento da usina nuclear de Zaporizhzhya, a maior da Europa. Na quinta-feira (15), Rafael Grossi, diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), visitou as instalações e disse que a situação na usina é “grave”, embora esteja temporariamente sob controle.