Relatório aponta que cinquenta milhões de pessoas vivem em ‘escravidão moderna’

26 de maio de 2023 às 07:17
Direitos Humanos

Foto: Reprodução internet

Um novo estudo publicado em Londres revela um aumento significativo no número de vítimas da escravidão moderna nos últimos anos. De acordo com o último Índice Global de Escravidão, divulgado pela organização de direitos humanos Walk Free nesta quarta-feira (24), estima-se que 50 milhões de pessoas estavam vivendo em situações que ferem a dignidade humana em 2021. Isso representa um aumento de dez milhões em relação à estimativa anterior feita cinco anos atrás. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).

O documento aponta que a situação da escravidão moderna está se deteriorando, especialmente em um contexto de conflitos armados cada vez mais intensos, degradação ambiental generalizada e os impactos da pandemia de Covid-19, entre outros fatores.

De acordo com a definição da organização Walk Free, a escravidão moderna abrange diversos conceitos jurídicos, como trabalho forçado, servidão por dívida, casamento forçado, práticas análogas à escravidão e tráfico humano. Esses termos englobam uma variedade de situações em que indivíduos são explorados, privados de sua liberdade e sujeitados a condições de trabalho degradantes e coerção. A escravidão moderna está escondida à vista de todos e está profundamente entrelaçada com a vida em todos os cantos do mundo. Todos os dias, as pessoas são enganadas, coagidas ou forçadas a situações de exploração que não podem recusar ou abandonar”, disse o estudo, que acrescentou: “Todos os dias, compramos os produtos ou usam os serviços que foram forçados a fazer ou oferecer sem perceber o custo humano oculto”.

O trabalho forçado afeta cerca de 27,6 milhões de pessoas na escravidão moderna, enquanto o casamento forçado afeta aproximadamente 22 milhões de pessoas, representando quase uma em cada 150 pessoas em todo o mundo, de acordo com o relatório.

Evidências de práticas de escravidão moderna também têm sido documentadas em lugares como a Coreia do Norte (104,6 pessoas por 1.000 habitantes), a Eritréia (90,3) e a Mauritânia (32). Arábia Saudita, Turquia, Emirados Árabes Unidos e Kuwait também ficaram entre os 10 primeiros.

“Esses países compartilham algumas características políticas, sociais e econômicas, incluindo proteções limitadas para liberdades civis e direitos humanos”, disse o estudo.

 

Recentemente, em entrevista à DW, três norte-coreanos que conseguiram fugir do país denunciaram os abusos do regime e cobraram uma ação global para ajudar os compatriotas presos injustamente no país.

“A Coreia do Norte é um inferno”, afirmou Jung Gwang-il, dissidente norte-coreano e presidente da organização humanitária No Chain, sediada em Seul, na Coreia do Sul. “É difícil para as pessoas do mundo exterior entender como é a situação na Coreia do Norte “.

Segundo o relatório, muitas regiões afetadas pela escravidão moderna são marcadas por conflitos, instabilidade política ou autoritarismo. Além disso, algumas áreas abrigam uma grande população de refugiados e trabalhadores migrantes que não possuem as mesmas proteções legais que os cidadãos locais, tornando-os altamente vulneráveis à exploração.

Dimensionando a extensão do problema e a necessidade de ação urgente para combater a exploração, o relatório destaca que a escravidão moderna também é uma realidade em países do G20. Estima-se que 11 milhões de pessoas sejam exploradas na Índia, 5 milhões na China e 1,8 milhão na Rússia.

Regimes autoritários

O estudo também observa que em vários países, os governos obrigam seus cidadãos a trabalhar em diversos setores, incluindo prisões privadas, ou através de recrutamento forçado. Essas práticas evidenciam violações graves dos direitos humanos e um desrespeito à dignidade das pessoas envolvidas.

Neste mês, o antropólogo alemão Adrian Zenz, conhecido por ter publicado diversos relatórios e artigos importantes sobre a situação dos uigures na Região Autônoma de Xinjiang, na China, apresentou um novo estudo sobre o trabalho forçado da minoria étnica muçulmana pelas mãos do Estado.

Construído a partir de registros internos do Estado chinês, o relatório revela como a mão de obra uigur em Xinjiang se tornou coercitiva a partir de 2019. Ele detalha como regiões da província compilaram listas de indivíduos classificados como “preguiçosos”, “bêbados” e “outras pessoas com motivação interior insuficiente para o trabalho”. A identificação servia para que elas fossem posteriormente submetidas a programas de “educação de pensamento” e enviadas a colheita de algodão.

O relatório ainda observou que, embora a principal responsabilidade pela mudança caiba nos governos nacionais, “é necessária uma abordagem que envolva toda a sociedade – os parceiros sociais, os participantes da economia social e solidária, as empresas, os investidores, os grupos de sobreviventes, a sociedade civil e uma série de outros atores têm papéis fundamentais a desempenhar”

Fonte: Site A Referência (www.areferencia.com)