Medicamento contra o HIV se mostra promissor para desacelerar quadros de demência, aponta estudo

01 de maio de 2023 às 11:34
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Imagem Ilustrativa. Foto: Reprodução Getty Images

Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, descobriram que um medicamento aprovado para o tratamento do HIV pode ter utilidade também no manejo de quadros de demência. Os resultados foram publicados na revista científica Neuron, na última quarta-feira (26).

A pesquisa, realizada em camundongos, partiu da identificação da dificuldade que o cérebro de pessoas com demência, incluindo a doença de Huntington, tem para eliminar proteínas tóxicas. Essa é uma característica comum em indivíduos com doenças neurodegenerativas. As proteínas maldobradas, como a huntingtina e a tau, vão se acumulando a ponto de levar à degradação e à morte de células cerebrais, à medida que surgem os sintomas do declínio cognitivo, como a perda de memória, por exemplo.

Em condições normais, nosso corpo utiliza a autofagia, processo em que as células "comem" essas proteínas. Porém, é algo que não funciona adequadamente em quem tem doenças neurodegenerativas. Entre as descobertas relatadas pela equipe de Cambridge, está a de que um tipo de célula imunológica, conhecido como micróglia, que protege o cérebro e o sistema nervoso de materiais indesejados e tóxicos, atua de forma prejudicial em quem sofre de doenças que causam demência.

Nos camundongos com doenças neurodegenerativas, a micróglia ativou um interruptor na superfície das células (chamado CCR5) que prejudica o processo de autofagia e, portanto, facilita o acúmulo de toxinas no cérebro. O interruptor CCR5 não age apenas nas doenças neurodegenerativas, ele também é usado pelo vírus HIV como uma "porta de entrada" nas células.

Um medicamento anti-HIV chamado maraviroc, aprovado em 2007 nos EUA e na União Europeia, atua justamente na inibição do CCR5. Nos testes, a equipe de Rubinsztein submeteu camundongos com doença de Huntington e outros quadros demenciais ao tratamento com o maraviroc por quatro semanas. Ao analisarem o cérebro dos animais, os pesquisadores encontraram uma redução significativa dos agregados da proteína tóxica huntingtina, quando comparados aos que não haviam sido tratados.

Uma ressalva feita pelos autores é a de que a doença de Hungtinton só se manifesta em camundongos com sintomas leves após 12 semanas. Mesmo sem tratamento, era muito cedo para analisar se o remédio teria impacto.

Já nos camundongos com demência, os pesquisadores constataram que a droga reduziu a quantidade de agregados da proteína tau e também retardou a perda de células cerebrais. Posteriormente, eles perceberam que os camundongos tratados tiveram desempenho melhor do que os que não tomaram o remédio em um teste de reconhecimento de objetos, sugerindo que o medicamento retardou a perda de memória.

A descoberta abre caminho para pesquisas futuras, inclusive em humanos, afirma o autor do trabalho.

 

Fonte: R7/Saúde