Vendido como opção ao cigarro, tabaco aquecido também tem substâncias tóxicas e cancerígenas

17 de abril de 2023 às 11:25
Estudo

Foto: Reprodução/ Ajeng Dinar Ulfiana/Reuters/Arquivo

O tabaco aquecido, também chamado de produto "heat not burn" (calor que não queima, na tradução literal), é mais um item vendido como uma opção menos danosa ao cigarro tradicional, mas que na realidade não é. A exemplo do cigarro eletrônico, o tabaco aquecido promete ser mais saudável por “impedir” a queima e apenas aquecer o fumo a uma temperatura de 350°C – padrão usado por umas das maiores produtoras de tabaco e seus derivados. Esse vapor reduziria o número de substâncias nocivas do produto.

Porém, não é bem isso que ocorre. "É uma mentira, porque pesquisadores foram procurar produtos de combustão no tabaco aquecido [e acharam]. Se eu encontro produtos de combustão, é porque houve a combustão. Só que essa combustão acontece a temperaturas mais baixas do que nos cigarros tradicionais", alerta Paulo Corrêa, coordenador da comissão de tabagismo da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia) e professor da Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto).

A argumentação corrobora, por exemplo, com um estudo feito em 2018, na Grécia, que identificou carbonila nas emissões do produto. Essa composição funciona como intermediária durante a combustão de compostos orgânicos, o que implica que, de fato, a queima existe.

Além disso, a OMS (Organização Mundial da Saúde), por meio de um informativo, deixou claro que o tabaco aquecido produz aerossóis (nuvem com gases e partículas sólidas e líquidas) com "nicotina, produtos químicos tóxicos e carcinógenos que são também presentes na fumaça do cigarro."

Alguns desses tóxicos são encontrados em maior concentração nesse produto do que no cigarro tradicional, e outros são exclusivos do tabaco aquecido.

Dentre os compostos, listados pela OMS, estão: nicotina, monóxido de carbono, aldeídos, acetaldeído, formaldeído e acroleína. "O acetaldeído é uma substância que reforça o poder de provocar dependência da nicotina. O formaldeído, que é o formol, é um cancerígeno grau 1 pela Iarc [Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer]. Então não adianta eles falaram que reduziu muito, que tem não sei quantas vezes menos formaldeído, mas se tem formaldeído, tem risco de câncer, porque um câncer no gênero grau 1 da Iarc não tem nível de exposição seguro", explica Corrêa.

E acrescenta: "acroleína é uma substância [altamente reativa] que dá risco cardiovascular e é considerada um irritante dos brônquios. Então ela é muito associada ao DPOC, a doença pulmonar obstrutiva crônica".

Os aldeídos, por sua vez, também contribuem com o vício e foram encontrados em concentrações mais altas nas emissões do tabaco aquecido. Vale ressaltar que o acetaldeído é classificado como possível carcinógeno humano pela Iarc.

"Nos cigarros convencionais, um produto bem problemático são os HPAs [hidrocarbonetos policíclicos aromáticos]. Esses hidrocarbonetos estão relacionados com câncer. [Pesquisadores] mostraram que esses cigarros heat not burn têm níveis similares de muitos componentes voláteis orgânicos. Mas eles têm níveis mais elevados de um HPA específico, que é o acenafteno – têm três vezes mais do que no cigarro comburente", alega o especialista.

É importante frisar que a nicotina, substância que causa dependência química, presente no produto, por si só é prejudicial.

De acordo com a AMB (Associação Médica Brasileira), ela também aumenta o risco de trombose, AVC, hipertensão e infarto do miocárdio. Para a especialista, trocar o cigarro convencional pelo tabaco aquecido "é trocar seis por meia dúzia".

A conclusão da OMS é que não há evidências suficientes para concluir que o tabaco aquecido é menos nocivo que o cigarro convencional. Na realidade, ele se tornou uma preocupação, já que aumenta a exposição a outras substâncias tóxicas.

 

Fumo passivo

O fumo passivo, que acontece quando não fumantes ficam expostos aos componentes tóxicos e cancerígenos do cigarro, acontece no produto tradicional e, segundo evidências, também ocorre no tabaco aquecido. Isso se dá porque o aerossol do tabaco aquecido é uma espécie de névoa que se espalha pelo ar e pode ser inalada por pessoas que não fumam. 

De acordo com dados divulgados pela OMS, as chamadas emissões de segunda mão desse produto expõem as pessoas a níveis quantificáveis de partículas finas e ultrafinas de material particulado (considerado um poluente) e de substâncias tóxicas importantes.

Fonte: R7/Saúde