Covid-19 pode levar sistema imune à exaustão mesmo em jovens com quadro leve ou moderado

20 de março de 2023 às 12:54
Saúde

Imagem Ilustrativa. Foto: Reprodução Getty Images

Dados preliminares de um estudo feito na Unesp (Universidade Estadual Paulista) sugerem que a infecção pelo SARS-CoV-2 pode causar alterações severas no sistema imunológico até mesmo em pessoas jovens e saudáveis, com quadros leves ou moderados de Covid-19. No trabalho, pesquisadores brasileiros e portugueses avaliaram células de defesa de indivíduos não vacinados entre 30 e 180 dias após a infecção.

“As células imunes dos pacientes infectados pelo vírus estavam em exaustão, algo semelhante ao que acontece com as células de pessoas com obesidade grau 2 ou 3, com doenças crônicas, como diabetes, ou já idosas. Mas é algo completamente inesperado para pessoas jovens e sem problemas de saúde”, conta à Agência FAPESP Fábio Santos de Lira, professor da FCT-Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia), campus de Presidente Prudente.

Os dados, que foram apresentados em congresso promovido pela Sociedade Internacional de Imunologia e Exercício nos Estados Unidos, integram o projeto FIT Covid, apoiado pela FAPESP. O objetivo do grupo, que envolve pesquisadores de instituições paulistas e da Universidade de Coimbra (Portugal), é investigar os efeitos da Covid-19 nos sistemas imune, vascular e nervoso autônomo (ramo do sistema nervoso central que controla respiração, circulação sanguínea e outras funções vitais) de pessoas com menos de 40 anos e que apresentaram quadros leves e moderados da Covid-19. A proposta é acompanhar o impacto da doença nos voluntários até dois anos depois da infecção.

O pesquisador explica que o principal sinal das alterações observadas no sistema imunológico desses indivíduos foi o cansaço extremo. O grupo comparou o sistema imune de 20 pessoas infectadas com o de 20 não infectadas e observou uma série de alterações naquelas que tiveram Covid-19, entre elas função pulmonar prejudicada, menor nível de atividade física e menor concentração de moléculas pró-inflamatórias conhecidas como citocinas.

A coleta das amostras ocorreu em maio de 2021, quando essa população ainda não tinha sido vacinada. Além dos dados mensurados logo após a infecção, os pesquisadores colheram amostras de sangue desses pacientes após o esquema vacinal completo (quando todos já haviam sido vacinados) e vão colher com um ano após a vacinação.

Exaustão

O pesquisador explica que, por serem jovens e clinicamente saudáveis, o esperado era que essas pessoas apresentassem pequenas alterações no sistema imune. “Mas o que vimos ao avaliar o metabolismo energético das células imunológicas é que ele está completamente alterado. O vírus consegue reprogramar as células imunes e levá-las para um status totalmente inflamatório. Trata-se, portanto, de um vírus muito agressivo, mesmo para pessoas jovens, saudáveis e comprovadamente sem nenhum problema clínico”, ressaltou Lira.

Alterações no sistema nervoso

Além do monitoramento do sistema imune de indivíduos jovens que tiveram Covid-19 antes de serem vacinados, o FIT-Covid está analisando os prejuízos ocorridos no sistema nervoso autônomo – que funciona de modo involuntário para que ocorram os batimentos cardíacos, por exemplo. Os dados mostram que, cinco meses após estarem curados da doença, os prejuízos no sistema nervoso autônomo se restabeleceram, voltando à normalidade. Nessa parte do estudo, a análise da frequência cardíaca até 180 dias após os indivíduos terem sido infectados mostrou uma atividade simpática aumentada durante o repouso.

Fonte: Agência FAPESP