Em manifestação, Le Pen reafirma que condenação foi "decisão política"

07 de abril de 2025 às 06:07
Mundo

Foto: Reprodução

Metropoles

A líder de extrema direita Marine Le Pen reafirmou que foi vítima de uma “decisão política” e “injusta” de juízes franceses de primeira instância, seis dias após a condenação que a tornou a inelegível por cinco anos, devido ao uso indevido de verbas do Parlamento Europeu quando era eurodeputada.

Em discurso para uma multidão de militantes reunidos neste domingo (6/4), em Paris, ela denunciou uma “caça às bruxas” e reiterou que não vai desistir de obter uma revisão da sentença.

Dirigentes e parlamentares do partido Reunião Nacional (RN) convocaram a manifestação em apoio à deputada de extrema direita com o objetivo de mobilizar a militância, que pode desanimar até o julgamento do recurso apresentado por ela à Justiça, esperado para 2026.

Na segunda-feira (31), a Corregedoria de Paris tornou Le Pen inelegível e determinou uma pena de quatro anos de prisão, € 100 mil de multa e cinco anos de inelegibilidade pelo desvio de € 4,1 milhões de verbas do Parlamento Europeu em benefício do partido. Dificilmente, a líder de extrema direita, três vezes candidata ao Palácio do Eliseu, conseguirá reverter a sentença a tempo de poder concorrer nas próximas eleições presidenciais, em 2027.

“Não foi uma decisão legal, foi uma decisão política”, que “não apenas desrespeitou o Estado de direito, mas também o estado de democracia”, disse Le Pen. “Não estamos pedindo para estar acima da lei, mas não abaixo da lei. Não somos subcidadãos”, ela acrescentou, refutando qualquer “espírito de sedição”. Le Pen alegou ser inspirada pelo ativista americano dos direitos civis Martin Luther King. Ela considerou seu julgamento de uma “parcialidade louca”.

Destacando sua longa experiência, Le Pen ressaltou que conhecia as vicissitudes da política. “Conheço as feridas, mas não conheço o abandono. Conheço o sofrimento que causam, mas não conheço o desespero. Conheço a indignação, mas não conheço a renúncia”, afirmou.

Antes dela, o presidente do RN, Jordan Bardella, havia denunciado a decisão “escandalosa” do tribunal de Paris, que, segundo ele, constituía “um ataque direto à democracia”. “Uma provocação”, também, baseada em “uma justificação grosseira e militante” dos magistrados, considerou o eurodeputado, apontando a “pressão exercida por certas organizações”, em particular o Sindicato dos Magistrados, classificado de esquerda. Bardella disse, no entanto, que não queria “desacreditar todos os juízes”.

“Não foi só Marine Le Pen que foi injustamente condenada. Foi a democracia francesa que foi executada por uma simples decisão judicial”, ele insistiu, saudando a presença de milhares de apoiadores, porém em número um pouco menor do que os 10.000 militantes que o partido pretendia levar à praça Vauban.

Ativistas do movimento Femen criticam Le Pen

Poucos minutos antes do início dos discursos, três ativistas do movimento Femen foram retiradas do local por agentes de segurança. Com os seios expostos, marca dos protestos da organização feminista criada em 2008 na Ucrânia, elas queriam demonstrar sua oposição a Marine Le Pen.

Nas costas de uma das ativistas, lia-se a frase “Le Pen maximale”, trocadilho com o sobrenome da líder nacionalista para defender “Pena máxima” a Le Pen.

Esquerda considera partido de Le Pen “perigoso” para a democracia

Também na capital, uma “contramanifestação” organizada pela esquerda reuniu militantes ecologistas, comunistas e da esquerda radical na praça da República, para defender a separação dos poderes, depois que a Justiça passou a ser alvo da extrema direita.

O deputado de esquerda radical Manuel Bompard, coordenador do partido França Insubmissa, disse que o RN estava mostrando sua “verdadeira face”, a de um partido “perigoso para a democracia”, ao organizar um comício em apoio a Marine Le Pen após sua condenação judicial.

“É um partido violento que ameaça até mesmo os juízes quando eles não gostam das decisões tomadas pelos tribunais”, disse Bompard na “contramanifestação”, que reuniu cerca de 3.000 pessoas, segundo a polícia. “Não basta usar gravata na Assembleia Nacional. A extrema direita é um partido perigoso, perigoso para a democracia e perigoso para o Estado de direito”, acrescentou.

‘Você rouba, você paga’, diz ex-premiê centrista

Minutos depois do término da manifestação da extrema direita, o ex-primeiro-ministro Gabriel Attal, do partido Renascença, de Emmanuel Macron, acusou Marine Le Pen de atacar os juízes e as instituições francesas. “Você rouba, você paga”, disse o centrista à deputada, durante um evento na Cité du Cinéma, em Saint-Denis, cidade marcada pela pobreza na periferia da capital.

Os caciques centristas já tinham planejado um dia de conferências e debates antes da condenação de Le Pen, mas com os ataques à Justiça, os temas da defesa da democracia e da independência do Judiciário ganharam relevância e darão combustível para a futura campanha presidencial. O evento contou com as presenças do primeiro-ministro François Bayrou e de três ex-chefes de governo de Macron: Attal, Élisabeth Borne e Édouard Phillippe, que esteve recentemente em visita ao Brasil. De acordo com os organizadores, 8.850 militantes de centro participaram do encontro partidário.