Ivete nega indiretas em entrevista: 'Meus argumentos são fortes demais'

UOL

É do ser humano gostar de uma polarização, algo que te faça definir um lado ou outro. Se for para colocar uma mulher contra a outra, então, o machismo enraizado na sociedade fica latente: Xuxa ou Adriane Galisteu? Viviane Araújo ou Gracyanne Barbosa? Ivete Sangalo ou Claudia Leitte?

Sobre o último conflito, "os torcedores" tiveram dias animados nas últimas semanas. A conta de Claudia Leitte, 44, bloqueou a de Ivete Sangalo, 52, nas redes sociais — o que, em tempos digitais, representa um gesto de desagravo bastante forte.

Dois ícones do Carnaval baiano estavam oficialmente em atrito.

Ivete, ao longo da carreira, nunca alimentou essa disputa; pelo contrário: era cuidadosa em afastar qualquer rumor que apontasse nessa direção.

"Eu não alimento, mas entendo a necessidade de uma fatia das pessoas do mundo, não só do Brasil, de alimentar as suas histórias, até uma parte lúdica da vida sobre isso, sobre essa ou aquela rixa, ou essa ou aquela indireta."

Mandou recado?

Recentemente, em participação no programa "Sem Censura", da TV Brasil, a ex-Banda Eva validou uma fala da influenciadora Maíra Azevedo, conhecida como Tia Má, que abordava a importância dos terreiros de candomblé na formação do axé como gênero musical. Ivete afirmou que "todo mundo sabe, mas se faz de maluco".

E completou: "Fui entendendo que quanto mais genuína eu fosse, próxima do que sou, e o que aquilo me aproximaria das pessoas se fosse colocado de forma latente, isso seria uma coisa boa para mim. Eu não teria que viver um personagem nem correr entre vacilos e erros."

"Eu sou uma pessoa que eu tenho os meus conteúdos de sobrevivência, que são para além de qualquer indireta, ou para além de qualquer confusão, qualquer que seja a pessoa", explica a cantora. "Inclusive, eu detesto estabelecer coisas negativas que envolvam nomes e pessoas, não é da minha energia."

Os meus argumentos são fortes demais para que eu me utilize dessas coisas para fazer frente ao meu trabalho.

Ivete Sangalo sobre indiretas públicas

Mas a baiana tem consciência da visibilidade e do quão longe podem chegar opiniões e atitudes delas. "Tudo o que eu falar é para o bem de uma discussão maior, que não se refere a uma ou outra pessoa, mas a todos nós. Somos uma sociedade feita de muitos, não de um só. Seria muito privilégio falar de um só."

Ivete finaliza o assunto destacando a necessidade de nós, enquanto sociedade, aprendermos e sermos "mais lúcidos sobre questões que são prioritárias."

Eu não estou aqui para diminuir. Eu estou aqui para somar. Esse é o meu propósito.

Ivete Sangalo

Área de interesse

É falando sobre música que a estrela baiana reluz mais. São 30 anos de carreira, mais de 330 canções gravadas — sem contar as participações especiais que fez — e mais de 150 prêmios nacionais e internacionais, incluindo quatro Grammy Latino. Para esse Carnaval, a aposta é o EP "O verão bateu em minha porta", gravado ao vivo no Farol da Barra, em Salvador.

Ela conta que as faixas foram produzidas "a toque de caixa". As cinco músicas foram feitas em um só dia, em uma tarde inspirada na companhia de três parceiros de composição.

O Farol da Barra foi escolhido como palco por ser um local muito emblemático da Bahia, sobretudo no Carnaval. "Eu tive a sorte de ter gravado aquelas canções daquela maneira, naquele lugar. É um EP vitoriosíssimo."

Eu, na minha emoção posso, lhe garantir que esse é um dos EPs mais legais que eu já fiz, sem a menor dúvida.

Ivete Sangalo sobre "O verão bateu em minha porta"

A faixa que dá nome ao trabalho tem uma adaptação da cantiga popular "Um homem bateu em minha porta". A ideia partiu da própria cantora enquanto brincava de pular corda com as filhas na Praia do Forte.

"Tem uma poesia. 'O verão bateu em minha porta e eu abri'. É maravilhoso isso. Aí a gente falou, dentro do estúdio, lá em casa, a gente estava compondo: 'Bicho, eu posso até estar enganada, mas nós arrasamos'."

Maturidade profissional

Questionada se a realização com o trabalho tem a ver com os anos de estrada, ela demonstra uma relação amistosa e de contemplação com a maturidade. "A mulher que eu sou hoje... Eu fui me construindo, né?", observa ao falar sobre os aprendizados com a vida.

"O mais importante é que cada vez mais eu me aproximo de coisas que me deixam feliz. A maturidade traz para a gente uma calma, uma percepção, uma orientação mesmo."

Margareth Menezes

A faixa "Deixa merecer (Deixa a gira girar/Filho de rei)", que faz parte de "O verão bateu em minha porta", tem a participação da cantora Margareth Menezes, atual ministra da Cultura do Brasil.

Sobre a parceria, Ivete Sangalo não esconde e admiração nem o respeito que tem pela amiga e tudo o que ela representa artisticamente. "Margareth é uma figura de valores muito sólidos, é uma amiga muito maravilhosa", exalta.

Ela tem um compromisso com a música, entendeu? Ela não banaliza isso. Não importa o quê, o momento, a hora... ela é uma pessoa completamente coesa, sabe?

Ivete Sangalo sobre Margareth Menezes

A mãe de Marcelo, Marina e Helena parece tentar se certificar ao longo da fala se está claro o tamanho da admiração pela amiga.

"Ela é uma pessoa da minha maior confiança, sabe? Eu posso falar de Margareth de forma a me posicionar porque é uma mulher que eu conheço. E, diante dela, eu falo dela com muita tranquilidade. Eu acredito em Margareth, você está entendendo?"

Festa de peão

No fim de janeiro, Ivete participou de uma campanha para uma linha de maquiagem da Avon ao lado de Ana Castela. Juntas, elas fizeram uma versão de "Festa", sucesso da baiana de 2001 — dois anos antes da Boiadeira nascer —, que a artista considera "um divisor de águas" na carreira.

Mais de 20 anos depois e sucedida por inúmeros hits, a canção continua como uma faixa obrigatória no repertório.

"É uma catarse. Cada vez que eu toco, ela fica dona do espaço, dona de si. É uma música que tem vida própria mesmo, e eu, graças a Deus, estava no caminho dela."

Posicionamento

Em entrevista recente a UOL, Daniela Mercury falou sobre colocar a arte a serviço de lutas que considera importantes. "Não faço música sem propósito", afirmou.

Ivete diz admirar a postura da rainha do axé, que considera como algo genuíno da artista. Quanto à própria atuação na música, a cantora de "Macetando" também acredita ter um posicionamento político.

"A minha proposição é falar de alegria. Sempre foi isso. Trazer às pessoas, através da música, algum alento", explica. "Eu acho que a vida e a alegria são combustíveis incríveis para a gente poder encarar o nosso dia a dia com tantas mazelas, tantas diferenças..."