Estátua da Justiça: conheça a obra de Alfredo Ceschiatti que foi alvo do autor de atentado em Brasília

16 de novembro de 2024 às 08:44
Brasil

Foto: Reprodução

A escultura "A Justiça", criada pelo artista mineiro Alfredo Ceschiatti, voltou a ser alvo de ataque nesta semana, no atentado realizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília. A obra, inaugurada há mais de 60 anos em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), já tinha sido vandalizada nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023.

Na noite da última quarta-feira (13), Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, arremessou um explosivo na estátua. Em seguida, lançou outros dois na direção do prédio do STF. Por fim, deitou-se no chão e acionou mais um explosivo, colocando-o atrás da cabeça (veja vídeo abaixo). Ele morreu.

Na casa alugada por Francisco em Brasília, a Polícia Federal encontrou um espelho com a seguinte frase"Debora Rodrigues. Por favor, não desperdice batom. Isso é para deixar as mulheres bonitas. Estátua de merda se usa TNT".

Espelho em casa alugada por homem que detonou explosivos em frente ao STF — Foto: TV Globo/Reprodução
2 de 10 Espelho em casa alugada por homem que detonou explosivos em frente ao STF — Foto: TV Globo/Reprodução

Débora Rodrigues dos Santos é acusada de ter pichado a escultura de Ceschiatti com a frase "Perdeu, mané"durante os atentados de 8 de janeiro de 2023.

'A Justiça', de Alfredo Ceschiatti, é pichada em ato terrorista em Brasília — Foto: Redes sociais
3 de 10 'A Justiça', de Alfredo Ceschiatti, é pichada em ato terrorista em Brasília — Foto: Redes sociais

'A Justiça'

Esculpida em granito e com mais de 3 metros de altura, a obra "A Justiça" retrata Têmis, a deusa da justiça na mitologia grega. Ela está sentada, de olhos vendados, com uma espada no colo e sem a balança nas mãos, como é tradicionalmente representada.

"A escultura da Justiça tem um simbolismo altamente importante para a sociedade como um todo, porque não há harmonia no ser humano vivendo em sociedade se não houver justiça. [...] A Justiça é a teia, a rede que mantém a coesão da sociedade, porque os excessos em geral tendem a ser identificados, listados e punidos, se necessário" , afirmou o coordenador do Laboratório de Ciência da Conservação da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Souza.

A peça, instalada em 1961 na Praça dos Três Poderes, em frente ao prédio do STF, é uma criação de Alfredo Ceschiatti, que nasceu em Belo Horizonte, em 1918.

Escultor, desenhista e professor, ele estudou na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e foi um dos principais colaboradores do arquiteto Oscar Niemeyer, responsável pela concepção de prédios, monumentos e palácios de Brasília.

"Nós estamos vivendo no mundo uma situação em que essas manifestações de ódio e violência estão ficando muito comuns, o que é um perigo. Nós não podemos, enquanto sociedade, considerar que esse tipo de ato são manifestações normais. [...] O ataque a obras de arte significa o ataque a cultura, comunidades, ideias e conceitos", disse o professor Luiz Souza.

A obra de Ceschiatti

O primeiro projeto de Ceschiatti em colaboração com Niemeyer foi o baixo-relevo do batistério da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, em 1944.

Ele integrou a Comissão Nacional de Belas Artes em 1960 e, de 1963 a 1965, lecionou escultura e desenho na Universidade de Brasília.

O artista, que morreu em 1989, criou várias obras expostas em prédios públicos de Brasília, como "As Iaras", escultura de bronze do Palácio da Alvorada também chamada de "As banhistas".