Para auxiliares de Lula, Venezuela tem mais a perder do que a ganhar com ofensiva de Maduro contra o Brasil
O Globo
A avaliação em Brasília é que Maduro tem mais a perder e um dos motivos é que o governo Lula sempre se posicionou contra as sanções econômicas aplicadas pelos Estados Unidos ao regime venezuelano. E o presidente brasileiro, mesmo sob críticas internas, era um aliado do líder chavista — chegando a declarar, no início de seu terceiro mandato, que o país caribenho é democrático.
Maduro não esconde de ninguém seu inconformismo com o Brasil, que começou quando o governo Lula decidiu não reconhecer o resultado da eleição na Venezuela, em 28 de julho deste ano. Na época, o chavista foi proclamado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país vizinho, mas os boletins de urna que poderiam comprovar a vitória na disputa com o candidato da oposição, Edmundo Gonzáles, jamais foram apresentados.
A gota d'água para o presidente venezuelano foi há cerca de dez dias, quando o Brasil barrou o ingresso da Venezuela no Brics, durante reunião de líderes do bloco, na cidade russa de Kazan. Maduro chegou a viajar para a Rússia e voltou a Caracas de mãos vazias.
Com isso, os ataques a Lula recrudesceram. Maduro e membros do regime chavista passaram a criticar com veemência o Itamaraty, e o presidente da Assembleia Nacional do país, Jorge Rodriguez, chegou a sugerir declarar o assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, como persona non grata.
Na última quinta-feira, uma publicação em uma rede social, feita pela polícia de Maduro, com a bandeira do Brasil e uma silhueta de Lula e a frase "Quem se meter com a Venezuela vai se dar mal" levou o Brasil a reagir no dia seguinte. Em nota, o Itamaraty comentou que a Venezuela optou por “ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos” e que isso não corresponderia à “forma respeitosa” que o Brasil trata o país.
Maduro não se calou e, no sábado, divulgou outra nota. A chancelaria venezuelana acusou o Itamaraty de “agressão descarada e rude” contra o presidente, instituições e poderes públicos e a sociedade venezuelana. Afirmou que existe uma "campanha sistemática que viola os princípios da Carta das Nações Unidas, como a soberania nacional e a autodeterminação dos povos”.