Sendy Nascimento: Uma Jornada entre Pontos Quânticos e o Topo da Ciência Brasileira

18 de julho de 2024 às 09:35
Educação

Alexandre Lago - Folhapress

Redação com Folha

Sendy Nascimento, 31 anos, navega por um universo de fluidos complexos, nanopartículas e pontos quânticos. Professora da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), sua pesquisa se entrelaça com o tema que rendeu o Prêmio Nobel de Química de 2023, e a impulsiona em direção ao topo da carreira científica: tornar-se uma pesquisadora brasileira 1A.

Desvendando o Mundo Minúsculo

A jornada de Sendy com a física começou na graduação, quando a disciplina a encantou por sua capacidade de explicar a natureza através de equações e matemática, permitindo até mesmo prever eventos.

Inicialmente, almejava pesquisas em escalas astronômicas ou minúsculas. O "mundinho pequenininho" venceu, mas o fascínio pelas escalas gigantescas permanece em suas leituras sobre astronomia.

Os pontos quânticos surgiram quase por acaso em seu doutorado, quando a pesquisa inicial sobre grafeno deu lugar à sugestão de seu orientador: explorar o ponto quântico de carbono, um material da mesma família.

Embora o termo "quântico" esteja em alta, Sendy adverte: nem tudo que se diz quântico o é de fato. "Quando falo em ponto quântico, seja o tradicional ou o de carbono, é porque ele segue as regras da mecânica quântica, não por estética."

As propriedades dos pontos quânticos os diferenciam. A fluorescência emitida (comprimento de onda) está diretamente ligada ao seu tamanho, algo descrito pela mecânica quântica, e não pela clássica. "Na clássica, a cor de um copo não depende do tamanho. No mundo quântico, essa cor é limitada pelo tamanho, o que é incrível."

Carbon Dots: Desvendando o Novo

O objeto de pesquisa de Sendy, o "carbon dot" (ponto quântico de carbono), é mais recente que os pontos quânticos tradicionais. Isso significa um universo de descobertas a serem exploradas.

Um exemplo é a relação entre tamanho e cor, nem sempre linear nos pontos quânticos de carbono. "Ainda não entendemos o que os faz se comportar assim." Já se sabe que a superfície do "carbon dot" influencia na cor, mas "ainda não é algo totalmente compreendido."

Outra diferença crucial: os pontos quânticos tradicionais, feitos com metais, podem ser tóxicos, exigindo tratamentos adicionais para uso. Já os "carbon dots" são menos tóxicos, abrindo portas para aplicações na natureza e em contato com humanos. "Não digo 100%, porque cientista é cauteloso", brinca Sendy.

Para que servem os pontos quânticos e os "carbon dots"? Eles podem estar mais presentes no seu dia a dia do que você imagina. Um dos usos é em telas.

Na medicina, podem ser biomarcadores, identificando substâncias, moléculas ou condições como pH e temperatura. A baixa toxicidade dos "carbon dots" os torna promissores para essa aplicação.

Sendy também pesquisa o uso de "carbon dots" para marcar combustíveis e verificar sua qualidade.

A receita para os "carbon dots" de Sendy é hidrotermal: meio aquoso, altas temperaturas e uma autoclave especial. Mas existe a chamada síntese verde, que utiliza biomassa para formar os pontos. "Já existem 'carbon dots' feitos de casca de banana, laranja, manga... até de esterco de vaca!", conta a pesquisadora.

Superando Obstáculos: Uma História de Perseverança

Nascida na periferia de Maceió, Sendy sempre foi impulsionada por sua própria teimosia. "Às vezes é um problema, né? Mas nunca sabemos qual defeito nos ajuda."

No primeiro ano da faculdade, engravidou. Seus pais a ajudavam com o bebê, mas as faltas na universidade eram frequentes e a situação financeira apertada. Andava a pé para a faculdade, sem dinheiro para passagem ou almoço. Uma bolsa de iniciação científica a ajudou.

A creche da universidade foi fundamental. "Deveria ser algo básico em todas as universidades: berçário, creche, escola integral para que estudantes e profissionais conciliem trabalho e família."

Em alguns momentos, sua filha a acompanhava nas aulas. "Tinha professor que não aceitava", lembra Sendy. Uma vez, sem ter com quem deixar a filha, um professor tentou impedi-la