Mulheres que transformam sonhos em negócios em Alagoas

02 de junho de 2024 às 11:22
Alagoas

Triatleta Rayssa Brêda e a empresária Carol Martins. Fotos: cortesia

Mesmo diante das dificuldades, mais de 30% do empresariado no Estado é do sexo feminino

 

Por Maria Villanova, estudante de jornalismo da UFAL

Não é novidade falar sobre jornadas múltiplas quando se trata de mulheres. Afinal, conciliar a carreira com a vida pessoal, os cuidados com a casa e o aperfeiçoamento profissional é uma realidade ampliada quando ela decide ser mãe. Mas a vontade de crescer, obter uma fonte de renda (por vezes extra) e até realizar um sonho faz com que muitas optem pelo empreendedorismo, resultando em 10,3 milhões de mulheres donas de negócios no Brasil atualmente, segundo pesquisa divulgada pelo Sebrae Alagoas.

Conciliar o novo empreendimento com as outras áreas da vida é apenas um dos obstáculos enfrentados pelas empresárias no Brasil, que vão desde a falta de oportunidades e dificuldades na obtenção de capital de giro e crédito até a discriminação de gênero. Em Alagoas, 44% das mulheres empreendedoras são chefes de família e 47% enfrentam dificuldades para conciliar trabalho com tarefas domésticas e cuidados com os filhos. O empresariado mostra seguir a tendência nacional: 36,40% dos proprietários de negócios no Estado são mulheres, e dessas, 69% empreendem por conta própria, atuando como empresárias, entregadoras, designers e trabalhando com divulgação, sendo uma espécie de "faz tudo" em seu negócio.

Alguns produtos desenvolvidos pela alagoana Carol Martins. Foto: cortesia
Alguns produtos desenvolvidos pela alagoana Carol Martins. Foto: cortesia.

A mesma pesquisa também mostrou que 72% das empresárias alagoanas informaram que possuem outras atividades e/ou fontes de renda, não sendo sua empresa a principal ocupação. É o caso da triatleta Rayssa Brêda, de 34 anos, que vem alcançando resultados grandiosos no esporte, sendo a melhor sul-americana na categoria Age 30-34 do Mundial de Curta Distância World Triathlon em Hamburgo (Alemanha) e a única alagoana classificada para o Mundial IRONMAN 70.3 que acontecerá em dezembro, na Nova Zelândia. Mesmo com uma rotina puxada de treinos e fortalecimentos, em 2024 ela abriu a StoreSou (@storesou), marca especializada em roupas esportivas, voltada principalmente para triatletas, corredores, nadadores e ciclistas. "Sou formada em design de moda pelo Instituto Europeo di Design e sempre quis unir minha paixão pelo esporte, que hoje se tornou minha principal ocupação, com minha formação.

A pretensão é expandir e fortalecer nossa região", conta Rayssa. Como muitas mulheres, apesar de já ter a ideia em mente, a execução só foi possível diante de um investimento. "Conheci meu sócio numa prova de triatlo em 2023, expus minha ideia, ele entrou com o investimento e eu com a parte criativa", recorda. E o que faz essas mulheres manterem suas ocupações e usarem o empreendedorismo como um caminho profissional adicional? Rayssa tem uma opinião: "Falando por mim, sou realizada no triatlo e estou em uma das minhas melhores fases no esporte. Empreender é uma vontade, uma fonte de renda, à qual me dedico, mas não posso dizer que é minha prioridade". Outra questão diz respeito aos desafios que uma nova carreira ou sua transição implicam na vida da mulher, como a adaptação a uma nova rotina, aquisição de novos conhecimentos e até a insegurança financeira, exigindo planejamento e disposição para o aprendizado, muitas vezes necessitando de ajuda.

Carol Martins e alguns produtos desenvolvidos pela sua marca, o Café Próspero. Foto: cortesia
Carol Martins e alguns produtos desenvolvidos pela sua marca, O Café Próspero. Foto: cortesia.

Segundo o Sebrae Alagoas, 64% do público que procurou atendimento para orientações em 2023 era feminino. O preconceito também se mostra presente nas dificuldades enfrentadas por mulheres que se tornam empreendedoras, especialmente daquelas que se dedicam ao seu negócio. É o caso da empresária Carol Martins, dona de uma loja de cappuccinos, a Café Próspero (@ocafeprospero). Com quase 20 anos trabalhando em multinacionais, ela decidiu sair do antigo emprego para se tornar exclusivamente empreendedora, mesmo diante das dificuldades.

Produtos desenvolvidos pela triatleta Rayssa Brêda e focam na paixão pelos esportes. Foto: cortesia
Produtos desenvolvidos pela triatleta Rayssa Brêda e focam na paixão pelos esportes. Foto: cortesia.

"E queria ter a oportunidade de trabalhar com o que amo e, ao mesmo tempo, estar na minha cidade e próxima à família e amigos, o que me era impossibilitado. E mesmo tendo me preparado psicologicamente e estando feliz com minha decisão, ainda assim enfrentei julgamentos, já que ganhava bem no antigo trabalho e, para alguns, vender cappuccino não é nada glamoroso", conta Carol. Para quem deseja começar um negócio, mas acha que é necessário ter experiência prévia, Carol é a prova de que a vontade é o elemento primordial, e que buscar ajuda especializada pode ser um bom começo. Mesmo graduada e pós-graduada em Administração ela procurou órgãos de ajuda especializada, fazendo parte dos 29,1% das empreendedoras brasileiras que buscam este tipo de auxílio, segundo dados da Pesquisa GEM, compilados pelo Sebrae Alagoas. E ela conta o porquê: "Empreender no meu negócio, atuando como empresárias e em papeis que antes delegava, foi um mundo novo. Assim, para melhor me preparar, procurei ajuda. Fiz uma consultoria no Sebrae que foi incrível, para aprender a precificar meu produto, além de consultorias em outros locais sobre tendências que me deram um bom norte para o futuro". E ela dá mais uma dica: "ter paciência, começar aos pouquinhos e fazendo ajustes se necessário, ser prudente para evitar perrengues e comemorar cada etapa".